Opinião | 02-08-2024 11:42

Continuamos sem aumentar as zonas verdes e os espaços de água

António Rocha Pinto – Engenheiro Civil
António Rocha Pinto – Engenheiro Civil

Em tempo de verão vale a pena lembrar as promessas eleitorais por cumprir que acima de tudo prejudicam a nossa qualidade de vida

Um projecto não é (só) arte, é sobretudo um conjunto de soluções técnicas e económicas. Com frequência assistimos a “ideias” algumas das quais são convertidas em projectos sem que ao longo do caminho se tenha feito uma avaliação do custo-benefício, do custo do investimento e do modo de financiamento e ainda dos custos com a manutenção ao longo da sua vida útil ou se colidem com outros.

Nas campanhas autárquicas, é uso, aparecerem “projectos”, ideias, muitas mirabolantes, lembro, no caso de Santarém, a ideia de uma marina no Tejo (um rio de aluvião altamente sedimentado), de um túnel para o comboio (com um custo enorme para o qual o concelho não produz riqueza e que é da responsabilidade da CP, filhos em mulheres alheias), de uma via rápida para Alcanede (quando soluções simples e mais económicas já teriam sido executadas e amortizadas), de um centro de congressos (quando não existe oferta hoteleira), da cobertura para uma praça com 12 mil lugares quando o campo pequeno para uma população de 700 mil pessoas tem 9 mil lugares e, parece, não está com grande saúde financeira. A lista não tem fim.

Se em alguns casos ainda há uma estimativa de custo, a concretização fica “dependente de financiamento”, ou seja, nunca. De valores de manutenção e funcionamento então nada se diz. Lembro que o valor da manutenção ronda o 1% ao ano. Ou seja, uma construção que custe 2 milhões gera um custo de manutenção de 20 mil euros ano, em média.

Lembro que se fala seriamente em demolir o Estádio de Braga entre outros já que os custos de manutenção não são suportáveis.

Este princípio é extrapolável para outras entidades, diria quase públicas.

Assim, antes que o primeiro risco seja feito deve ser feita toda uma análise económica para se perceber se há algum realismo no que se propõe. Até agora tenho visto muitas vezes a ordem a ser invertida. Pelo caminho perdemos tempo e dinheiro promovendo fábulas e ficando mais pobres, continuamos sem aumentar as zonas verdes e os espaços de água, bem como substituir os pavimentos para reduzir as temperaturas, ou implementar meios mecânicos que evitem que as deslocações entre a cota baixa e a cota alta se faça de carro.

Roubando uma frase à Renascença, vale a pena pensar nisto.


António Rocha Pinto

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