Opinião | 07-08-2024 21:00

A falta de talento dos novos pintores de estátuas e o infame roubo da nossa massa cinzenta

Emails do outro mundo

Transgressor Serafim das Neves

Transgressor Serafim das Neves
A alegria e o orgulho que cada aldeia ribatejana sentia quando algum dos seus filhos chegava a um cargo importante em Lisboa, fosse a chefe de repartição, roupeiro do Benfica ou do Sporting, chefe de gabinete ou deputado, está a perder-se, porque isso está a matar o interior.
O que, nos jornais locais, era notícia de destaque, fosse nomeação para um cargo, conclusão de um curso, ou casamento de estalo, salvo seja, deu lugar a comentários jocosos ou invejosos nas redes sociais, com alusões a eventuais favorecimentos, corrupção, jeitinhos, etc e tal.
As famílias que anunciavam na imprensa a ascensão dos seus rebentos, calaram-se com receio de atrair mau olhado. Os jornais definharam. Os activistas falam em roubo da massa cinzenta das aldeias e não tarda muito para andarem por aí a vandalizar sobreiros ou pipas do Museu Rural e do Vinho do Cartaxo, em sinal de protesto.
E por falar no Cartaxo, dou o exemplo de antigos presidente de câmara, como Conde Rodrigues e Pedro Magalhães Ribeiro que foram mostrar as suas habilidades para a capital e que, em vez de celebrados foram vilipendiados. Sinal dos tempos. Tanto que a gente investiu na sua educação e eles, pimba...foram pôr o que aprenderam ao serviço da macrocefalia de Lisboa. Como celebrar tal ingratidão?!!
Anabela Freitas saiu de presidente da câmara de Tomar para o Turismo do Centro e não houve festa. Já antes tinha sido deputada e nem um foguete se ouviu. E de Tomar saíram carradas de cérebros. E não é preciso recuar muito. Noutros tempos tinha metido a banda da Gualdim Pais a tocar na Estação e um mar de lenços brancos. Mas agora, quem é que se sente alegre com tal coisa, a não ser um ou outro que tenha ficado com o caminho livre para um bom cargo?!
O presidente da câmara de Santarém vai para presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude. Noutros tempos seria um feito olímpico, mas quase que aposto que o povo não vai sair à rua. Como também não saiu à rua quando a vereadora Inês Barroso foi para deputada. Ou quando a presidente da câmara de Rio Maior, Isaura Morais, abalou para o mesmo local. Celebrar o quê?!!
Depois do incentivo à emigração dos jovens mais bem preparados de sempre para outros países, os políticos não conseguem travar a migração para Lisboa, de gente robusta, empreendedora e com provas dadas.
E estes são exemplos de topo, digamos assim. Há dias ouvi um desabafo que faz justiça a gente mais jovem que foi forçada a partir. Anda um pai a pagar um curso numa escola profissional a um filho e depois ele tem que ir para Lisboa porque as câmaras e as empresas municipais já não contratam como antigamente e os ordenados são baixos. É um desperdício de talentos.
Na Golegã, alguém borrou o busto de Ricardo Chibanga, com tinta acrílica. Já antes tinha sido borrada, digamos assim, a estátua de Manuel dos Santos. Cada artista na sua arte. Chibanga e Manuel dos Santos toureavam. Quem os cobriu de tinta deve querer ser pintor, mas bastava-lhe olhar para as esculturas pintadas do Mestre Martins Correia, algumas das quais estão lá nas ruas da terra, para perceber que nem para pintor de construção civil tem jeito.
Um abraço olímpico
Manuel Serra d’Aire

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