A desterrada Maria do Céu e a glorificada Patrícia: duas faces da mesma moeda
Magnânimo Manuel Serra d’Aire
Magnânimo Manuel Serra d’Aire
É realmente preocupante o desinteresse com que a comunidade acompanha os feitos dos seus mais ilustres e famosos representantes políticos. E não é de agora. Essa gente que tanto tem dado de si em prol da comunidade é votada ao mais ignóbil esquecimento. E quando se lembram deles é para revelarem algum rabo de palha. Não só nos devíamos despedir, penhorados, dos que aqui serviram e foram ganhar a vida para outras paragens políticas, seja para o Governo, para a Assembleia da República ou para outros organismos do Estado, como também devíamos saudar com banda filarmónica e tapete vermelho aqueles que regressaram de arriscadas e complexas comissões ao serviço da pátria.
Assim de repente recordo-me da ex-ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, que das parangonas em jornais e das frequentes aparições televisivas transitou para o quase anonimato na sua Abrantes natal, sem sequer um aquecimento ou período de adaptação, o que, obviamente, pode causar traumas. Não sei que mal fez a senhora ao novo secretário-geral do PS, mas deve ter sido coisa de monta. Estará a colher alguma coisa que semeou?
Maria do Céu Antunes foi das poucas figuras do anterior Governo socialista que não teve direito a um lugarzinho numa lista eleitoral, fosse como candidata a deputada, fosse como candidata a eurodeputada. É verdade que o famigerado Galamba também não, mas esse é caso único e não entra nas contas. E além disso agora é comentador televisivo, que é tacho de relevo nos dias que correm. Já a ex-autarca de Abrantes nem lugar teve na lista de candidatos a deputados do PS por Santarém, quanto mais a 10 minutos de comentário político na TV.
Como estou a falar de agricultura, é apropriado concluir que a fava calhou a Maria do Céu, desterrada do Terreiro do Paço para as raízes, sem apelo nem agravo. A antiga presidente da Câmara de Abrantes, que chegou a integrar o níucleo duro de António Costa, caiu em desgraça mas não vejo nada de catastrófico na nossa lavoura que lhe possa ser imputado: continuamos a ter tomates, continuamos a apanhar melões e os nabos continuam a não faltar.
Quem teve direito a recepção apoteótica no regresso a casa foi a judoca de Tomar Patrícia Sampaio, depois de ganhaar uma medalha nos Jogos Olímpicos de Paris. A jovem foi recebida por uma multidão em apoteose junto à estátua de Gualdim Pais e claro que os políticos locais não podiam faltar (se o professor Marcelo estivesse mais perto também se teria pendurado, estou convencido). Uma fotografia ao lado de uma medalhada olímpica vale mais do que mil palavras e pode também render alguns votos nas próximas autárquicas. A unanimidade nas homenagens e encómios a Patrícia Sampaio foi geral, começando pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro, e foi tão transversal que até a distrital de Santarém do PCP, partido pouco dado a alinhar em consensos e em grandes euforias, emitiu um comunicado de congratulações à atleta ribatejana, que tão bem trabalhou para o bronze.
Saudações olímpicas do Serafim das Neves