Opinião | 20-08-2024 12:54

A pontualidade

A pontualidade

Se queremos mudar de vida, se o país quer mesmo espelhar uma modernidade intrínseca e uma qualidade de vida para todos, temos então de ser exigentes connosco, respeitar o nosso tempo e o quotidiano de terceiros. Por acaso - só mesmo por acaso -, associa-se a pontualidade aos povos de países mais desenvolvidos.

Não obstante uma ligeira melhoria nos último 50 anos, a pontualidade é uma das características mais desprezadas pelos portugueses.

A palavra pontual tem origem no latim "punctualis", que deriva de "punctus", que significa ponto. A ideia de pontualidade está então relacionada com o conceito de marcar um ponto específico no tempo, expressando rigor e exactidão. Daí que o dicionário de português Priberam caracterize como pontual aquele que faz as coisas em tempo devido, que respeita o cumprimento de horários, deveres ou compromisso, ou que faz com exactidão. Eu diria antes que é aquele que não estraga os dias dos outros.

Em Portugal quem se esforça para ser pontual, geralmente não tem qualquer vantagem nisso, visto que é sempre boicotado pelos atrasados. Sim, de que serve chegar a horas a uma reunião, se a mesma apenas se inicia quando o último participante chega? Acresce que, muitas vezes, esse último é a personagem mais importante do evento.

É típico, desde sempre, que os gabinetes dos governantes portugueses e respectivo pessoal, não comecem a carburar antes das 10:00/11:00, consoante os casos. É típico, desde sempre, que um casamento, ou baptizado nunca comece a horas – noiva que é noiva, tem de chegar atrasada!

É típico, desde sempre, que muitos almoços e jantares nunca comecem sem, pelo menos, 30 minutos de atraso face à hora prevista. Aliás, já se sabe de antemão que a hora previamente marcada nunca é para cumprir.

A falta de pontualidade tem sempre depois um gigantesco efeito dominó, estragando a jusante o dia e as actividades de quem é pontual. O atraso sistemático, além de denotar falta de respeito por terceiros e de caos pessoal e organizacional, extermina as preciosas horas que sobrariam de cada dia. Não esquecer que cada dia que passa é totalmente irrepetível.

Por estas bandas vive-se ainda um lento, profundo e penoso processo de aprendizagem de como viver em comunidade. Por exemplo, preocupamo-nos com a limpeza da nossa casa – ou pelo menos dizemos que sim -, mas largamos papéis na rua. Do mesmo modo, nunca chegamos a horas a nada, mas enfurecemo-nos porque aquela repartição, ou estabelecimento bancário, abriu 5 minutos depois da hora.

Tudo isto tem depois consequências, quer na nossa vida pessoal, quer no meio laboral. A nossa já famosa reduzida produtividade no trabalho, prende-se não apenas com a existência em Portugal de actividades produtivas de reduzido valor acrescentado, mas também com ausência de uma saudável disciplina que optimizasse os dias, as reuniões e o próprio trabalho, o que possibilitaria um período de tempo acrescido para a nossa vida pessoal e familiar.

Lembro-me na minha vida pessoal de alguém aprazar reuniões com agendas pré-determinadas, com a porta fechada para quem chegava depois da hora, com os pontos da ordem de trabalhos com tempos atribuídos e de intervenções – solicitadas previamente - com tempo limitado. Acabavam sempre a horas e com todo um dia ainda pela frente para ser desfrutado.

Se queremos mudar de vida, se o país quer mesmo espelhar uma modernidade intrínseca e uma qualidade de vida para todos, temos então de ser exigentes connosco, respeitar o nosso tempo e o quotidiano de terceiros.

Por acaso - só mesmo por acaso -, associa-se a pontualidade aos povos de países mais desenvolvidos.

Convém relembrar que a vida é única e irrepetível e que as horas de cada dia que se consomem debalde e que vão para o caixote da nossa história, são desmedidamente preciosas para tanta coisa boa, como ter tempo para se ler um bom livro, ou dar um valente beijo a quem se ama.

P.N.Pimenta Braz

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