Os mestres da fraude e sangue e dinheiro
A França é um dos países mais democráticos do mundo onde a cidadania dá cartas. Nem por isso a corrupção deixa de ser um flagelo tal como em Portugal. A diferença é que uma década depois dos acontecimentos já podemos escrutinar os ladrões em acção, em filmes e séries bem produzidas.
França é o país mais democrático do mundo, ou um dos mais democráticos, onde se geraram as revoltas sociais que nas últimas décadas têm feito girar, com mais velocidade, a terra à volta da lua. A mais marcante dos nossos tempos foi o Maio de 1968, e a última foi a dos coletes amarelos, coisas diferentes mas que mostram a dinâmica da sociedade francesa. Nem por isso há muito menos corrupção que noutros países desenvolvidos. O caso do imposto do carbono é um bom exemplo que espelha a fragilidade dos governos ditos de esquerda, socialistas ou social-democratas. A fraude terá custado aos cofres franceses mais de 5 mil milhões de euros, e tudo se deveu ao facilitismo que os políticos franceses proporcionaram aos mestres da fraude. Fraudes e corrupção também é com Portugal. Mas há uma diferença significativa. A do carbono foi em 2009 e já deu pelos menos um filme em 2021, e uma série com 12 episódios disponíveis na Filmin que mostram bem como o poder político tem pés de barro. Também já foram julgados e presos alguns dos empresários corruptos, mas muitos fugiram do país e jamais pagarão pelos seus crimes.
Em Portugal há muitos livros e reportagens publicadas sobre a queda do BES, a falência do Banif, a Operação Marquês, os favores da Banca a empresários manhosos, enfim, só para ficarmos com os números mais recentes da miséria humana, desde 2017 até Maio de 2013 havia cerca de 190 políticos portugueses a braços com a Justiça.
A diferença entre França e Portugal é a forma como a justiça funciona, lá é muito mais célere, assim como é diferente para muito melhor a atenção que os produtores de cinema e televisão dão aos mestres da fraude, os mestres que acham que o Estado português não tem salvação. O caso recente do dinheiro encontrado na estante do chefe de gabinete de António Costa é um bom exemplo. A classe política portuguesa está toda em causa quando foge deste debate e não promove o funcionamento da Justiça para que saibamos, rapidamente, como é que se movimenta tanto dinheiro vivo nas barbas de quem manda nisto tudo.
Cada partido da oposição, com a ajuda das associações de cidadãos, devia falar e discutir, dia sim, dia sim, como o Estado compromete o funcionamento da Justiça ao permitir, em interesse próprio, que os tribunais administrativos demorem mais de duas décadas a resolverem a maioria dos processos, onde o próprio Estado tem interesses. A grande maioria destes processos acabam só depois das pessoas morrerem, ou desistirem pelo cansaço, pela descrença no Sistema, por falta de dinheiro para pagarem aos advogados, etc, etc.
É ridículo votar numa classe política que não se deixa escrutinar quando estão todos a defender os milhões de financiamento às suas organizações, quando todos fazem tábua rasa de questões ligadas à reforma das instituições mais importantes para a democracia. JAE.