Opinião | 28-08-2024 21:00

Anda comigo ouvir os aviões e molhar os pés no Tejo enquanto D. Sebastião não volta

Emails do outro mundo

Implacável Manuel Serra d’Aire

Implacável Manuel Serra d’Aire
Há uns anos o grupo Os Azeitonas lançou uma daquelas músicas que ficam no ouvido ao ponto de se tornarem irritantes e que perduram no tempo como fósseis. A canção chama-se “Anda comigo ver os aviões…” e a letra começa precisamente com a frase que lhe dá título. Pois bem, a conhecida trova poderia muito bem ser adaptada para hino de protesto das populações da Póvoa de Santa Iria e de Alverca, com o título “Anda comigo ouvir os aviões”.
Segundo rezam as crónicas, muitos moradores dessas cidades e de outras localidades do concelho de Vila Franca de Xira estão fartos do ruído que os aviões fazem desde que foram alteradas rotas de saída e entrada no aeroporto da Portela. Ou seja, agora os pobres residentes passaram a levar com o ruído dos potentes motores por cima das suas casas de madrugada à noite.
Apesar disso, há quem continue a defender com unhas e dentes que a melhor localização para o novo aeroporto de Lisboa seria em Alverca, ali mesmo nas barbas de quem agora reclama por causa dos aviões da Portela. O que me leva a pensar que algum mal essa gente há-de ter feito a Deus para merecer tal martírio sonoro e ainda haver quem lhe queira acrescentar um aeroporto na marquise. Como diz a voz popular, ‘pimenta no rabo dos outros para mim é refresco’ e apostava singelo contra dobrado que quem defende tal ideia não vive por aquelas bandas. Ou, se vive, sofre de surdez irrevogável…
Manel escrevo-te esta crónica com uma vista deslumbrante que engloba mar azul, sol, palmeiras, biquínis atrevidos e areia dourada. Saquei essa fotografia da Internet, mandei imprimir um poster e coloquei-o na divisão que me serve de escritório, para usar um termo a armar ao pingarelho. É a forma de me aproximar de uma realidade inalcançável, sucedânea dos velhos posters de actrizes e artistas pop que tinha no quarto, onde figuravam em reduzidos trajes teenagers hoje balzaquianas como Madonna ou Samantha Fox.
Não é que não goste de praias, sobretudo de praias boas, daquelas que têm tudo o que está no poster e mais umas caipirinhas ou cervejas geladas. O problema é que elas, a praias boas, não gostam de mim, tal como as artistas que citei e muitas outras. Ou melhor, não sabem nem nunca souberam da minha existência. Vai a Bora Bora ou a Copacabana e pergunta pelo Serafim das Neves. Ninguém sabe quem sou, tal como ninguém sabe quem são os reis da primeira dinastia para lá do D. Afonso Henriques. São as consequências de ser um sovina assumido, daqueles que não contrai créditos para ir veranear e tirar fotografias em areais paradisíacos para meter pirraça aos amigos nas redes sociais.
Perante essa realidade, e sendo pragmático, tenho que me contentar com o que há. Com o poster na parede, com o molhar de pés no Tejo ou nas águas gélidas do norte do país e apanhar uns banhos de sol quando o nevoeiro permite. Porque se a lenda se cumprir e D. Sebastião um dia regressar numa manhã de nevoeiro, há-de ser com certeza numa praia do norte em pleno Verão.
Um abraço olímpico do
Serafim das Neves

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