Depois do tremor de terra o dilúvio, num Verão que parece prenunciar o fim do mundo
Insofismável Manuel Serra d’Aire
Insofismável Manuel Serra d’Aire
Ainda me sinto abalado pelo facto de não ter dado pelo tremor de terra que em meados de Agosto pôs o país em polvorosa e que nada teve a ver com o Festival da Sopa da Pedra de Almeirim, que só começou uma semana mais tarde. Eu, pelos vistos, estava a dormir o sono dos justos e assim perdi a oportunidade de partilhar nas redes sociais o terror sentido. O sismo com epicentro ao largo de Sines foi sentido em todo o território nacional e motivou diversas réplicas, entre elas a de ficarmos a saber que tínhamos uma classe política altamente entendida no fenómeno sismológico. O Presidente da República, o ministro Rangel e o presidente da Câmara de Lisboa foram alguns dos que vieram rapidamente sossegar a Pátria e serenar os ânimos garantindo que a nossa Protecção Civil estava mais que pronta para o que desse e viesse. Só faltou desafiar os sismos para a porrada com uns sonoros: “Quantos são? Quantos são?”.
Pelo meio dessas bravatas também houve quem preferisse o registo das cautelas e caldos de galinha que, como sabes, nunca fizeram mal a ninguém. Um especialista do assunto disse que se o sismo fosse mais intenso poderia ter causado graves danos. Uma Lapalissada que foi reproduzida como título num órgão de comunicação social e que me fez recordar um episódio da minha azougada adolescência em que tive a infeliz ideia de me sair com uma tirada do género - “se a minha avó tivesse rodas era um camião” – e levei um calduço do meu progenitor para aprender a não dizer baboseiras. Sobretudo baboseiras que invocassem o nome da senhora sua mãe em vão. Toma lá que é para aprenderes! E pelo menos essa eu aprendi.
O sismo foi um dos grande acontecimentos deste Verão resfriado, cujo epílogo é habitualmente anunciado pelas incontornáveis universidades de Verão das juventudes partidárias e pela Festa do Avante, que este ano até vai ter um desfile dos tabuleiros de Tomar, vê lá tu. Outro cataclismo que não me passou despercebido foi o dilúvio de vinho em Alpiarça, ao que parece causado pelo colapso de um depósito. Segundo consta, foram 30 mil litros de vinho a inundar as ruas da vila. Se isto não é sinal da aproximação do fim do mundo, não sei o que seja...
E houve ainda outro relevante assunto na agenda mediática, ou melhor, nas malas térmicas: o preço das bolas de Berlim nas praias, que chegou aos 2 euros. A indignação foi mais que muita e ainda não percebi bem porquê. Os produtos alemães nunca foram baratos. E, em contrapartida, pagamos balúrdios por mixórdias anunciadas como produtos gourmet, com chancela de chefes da moda ou nem tanto, que devíamos ter vergonha e estar calados em relação aos esféricos e cremosos bolos. Sabem o que custa transportar uma geleira pesada e caminhar horas e horas sobre areia em brasa a bradar “Olha a bola de Berlim!”, enquanto meio mundo está de papo para o ar a apanhar sol ou a mergulhar no Atlântico? Experimentem e depois digam-me se as bolas são caras, cambada de sovinas.
Um abraço de grande magnitude do
Serafim das Neves