Opinião | 18-09-2024 21:00

As grandes mentes e as cabeças de nabo, os passeios onde só cabe um pé e os mini tachos que são a segurança social de políticos minorcas

Emails do outro mundo

Vernáculo Serafim das Neves

Vernáculo Serafim das Neves
Os fenómenos do Entroncamento não são fenómenos da ciência, da medicina, nem sequer do desporto, porque esses são demasiado sérios. Os do Entroncamento fazem-nos sorrir, de tão ridículos que são. Abóboras e batatas gigantes, couves esgalgadas que chegam acima dos telhados, melros albinos.
Fenómenos campestres...ou quintalestres, melhor dizendo, porque ali não há campos, mas quintais. Claro que também há por lá fenómenos deprimentes, como os políticos em geral, de todas as épocas e de todos os partidos.
Já era assim no tempo da ditadura. Um deles, José Duarte Coelho, que até tem um busto em bronze, à porta da câmara municipal, fazia gala em contrariar os técnicos que projectavam passeios largos, mandando reduzi-los para metade ou menos. Um Marquês de Pombal ao contrário. Se tivesse sido ele a reconstruir Lisboa após o terramoto, hoje, nas ruas da baixa, não conseguiam passar duas trotinetas ao mesmo tempo, uma para cima e outra para baixo.
Quem tiver dúvidas meça as ruas da baixa pombalina e as ruas duartecoelhinas, digamos assim, do Entroncamento. E as do Entroncamento foram construídas dois séculos mais tarde. Um contraste fenomenal, para não me afastar do tema, entre grandes mentes e gigantescas cabeças de nabo.
E vêm lá mais. Li há dias que a nova directora do Centro Distrital da Segurança Social de Santarém, é nem mais nem menos que a herdeira da loja dos fenómenos do Entroncamento, a Casa Carloto, que sempre teve à venda loiça com desenhos da fenomenologia da terra.
A senhora é um fenómeno do alpinismo partidário, mas à dimensão dos liliputianos fenómenos lá da terra. Iniciou-se na modalidade aos 15 anos no PSD, foi assessora de uma secretária de Estado no tempo do Cavaco Silva, deputada durante dois aninhos apenas e membro de um qualquer conselho de administração de empresa ou instituto público. Aí ganhou algum. Nos cargos autárquicos, que teve e ainda tem, só ganhou a possibilidade de votar a favor de ruas e passeios minúsculos. E agora...Segurança Social, porque é para casos destes que esses simpáticos cargos existem.
E por falar em políticos locais, é de realçar que depois das obras, que tão contestadas eram por fazerem pó e impedirem o povo de ir às lojas, muitos viraram-se, com assinalável êxito para a cultura e o entretenimento. Acabaram-se os arranjos das estradas, a construção de ciclovias que ninguém utiliza e outras infra-estruturas cujas obras estavam sempre a aumentar de preço ou a parar.
Estamos na época dos políticos festeiros. Autênticos promotores de festivais, concertos e espectáculos para todos os gostos. Foi em Julho e em Agosto e está a ser em Setembro. Sempre a bombar, sem parar. Há palco e dinheiro para tudo e mais alguma coisa. E só não há mais porque o Plano de Recuperação e Resiliência, o famoso PRR, não dá dinheiro para animação. Enfim...não dá, mas devia dar, digo eu que me ponho a dar saltinhos ao som de uma qualquer banda de tributo...seja lá quem for.
Um abraço cultural
Manuel Serra d’Aire

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