Donas de casa em chamas, os Palma Cavalões da ironia e a inestimável imutabilidade de quem mete livros em cabines telefónicas
Substancial Serafim das Neves
Substancial Serafim das Neves
De cada vez que os nossos governantes prometem acabar com os fogos florestais e ordenar a floresta, é certo e sabido que só mesmo os crentes de cada uma das nossas religiões partidárias, acreditam em tais promessas. O resto do pessoal, limita-se a sorrir e a evitar idas ao campo.
Ateu empedernido de tais crenças, sou dos que se tentam proteger, de declarações políticas, telejornais e noticiários televisivos incendiários, em geral. Em matéria de fogos só vejo séries como ‘Chicago Fire’ ou ‘Fire Country’, e um ou outro filme do tipo, Agarra-me a Mangueira ou Dona de Casa em Chamas, quando me dá para o refinamento intelectual, digamos assim. Mas sempre de capacete... não vá o diabo tecê-las.
Não culpo os políticos, coitados, porque se limitam a cumprir as tradições. E as tradições, nomeadamente as boas tradições, como a de dizer disparates e esturricar dinheiro dos contribuintes em comissões e sistemas de prevenções, enquanto bombeiros e populares assam e repórteres esbracejam e urram, têm muita força na nossa linda terra.
Quando dizes, como no teu último escrito, que está tudo na mesma como a lesma, não fazes mais do que enaltecer, de forma sublime, esse nosso apego à mui estável e estimável imutabilidade.
Já agora, aquela história que contas, de terem roubado os livros que a Junta de Vila Franca de Xira colocou à disposição do povo num jardim da cidade, dentro de uma antiga cabine telefónica reconvertida, é fantástica.
Será que os senhores autarcas acreditam mesmo, que ainda há quem vá para o jardim sentar-se a ler um livro que encontrou num equipamento do século passado chamado cabine telefónica?? A sério??!!! É verdade que há quem acredite em coisas bem mais espantosas, mas mesmo assim...
Alguém da Associação José Afonso, leu um dos meus e-mails e enviou-o à Comissão Para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial com a indicação que se tratava de um texto de teor racista. E esta chutou-o, digamos assim, para a Entidade Reguladora Para a Comunicação Social (ERC) que lá teve que explicar àquela activística rapaziada, o que é a figura retórica da ironia, que nós praticamos há décadas nestes nossos escritos.
Deve haver por aquelas tertúlias, quem afirme regularmente, nomeadamente nas leves e patetas entrevistas estivais, que o seu escritor preferido é o Eça de Queirós. E sendo o Eça um príncipe das ironias, bem gostava eu de saber o que tais bestuntos perceberiam dos seus livros... se os tivessem lido, claro.
Muitas bengaladas levariam no coco, se o escritor ainda se passeasse por Lisboa. E só se perderiam as que caíssem no chão. Cambada de Dâmasos Salcede, Sousas Neto e Palmas Cavalões.
Quanto aos da Associação José Afonso, o que será que eles pensam que estão a cantar, quando cantam alguma das suas cantigas mais irónicas?!! Por mim, só me apetece sair daqui a cantar:
“Nefretite não tinha papeira/ Tuthankamon apetite/Já minha avó me dizia/Olha que a sopa arrefece”. Ou, mais à frente, porque estamos no Ribatejo, claro: “Manel era o rei do fandango/ Do fandanguinho picado/Maria se fores ao baile/ Leva o casaco castanho”.
Um abraço quebra costas
Manuel Serra d’Aire