Opinião | 09-10-2024 21:00

Os autarcas fura-greves e os admiradores de Zeca Afonso que fizeram gazeta a Português

Emails do outro mundo

Denunciado Manuel Serra d’Aire

Denunciado Manuel Serra d’Aire
A Associação José Afonso apresenta-se como uma associação cultural e cívica, não confessional, formada em torno da memória e do exemplo de José Afonso. Até aqui muito bem. Só não consigo perceber em que parte da divulgação da memória e do exemplo do grande Zeca se enquadra a denúncia feita à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, que funciona junto do Alto Comissariado para as Migrações, sobre o conteúdo de um texto teu, caro Manuel Serra d’Aire. Mas sei que o assunto chegou à vigilante e insuspeita Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), que teve de explicar ao senhor ou senhores denunciantes que o que estava plasmado no texto não era para ser interpretado em sentido literal mas sim como um naco de prosa de refinada ironia, devidamente rotulado como artigo de opinião susceptível de causar urticária a espíritos mais quadrados e cinzentões.
A ERC, por momentos, lá teve de vestir a pele de professora de Português do ensino secundário e explicar ao denunciante, com alguma paciência, que boa parte das afirmações reproduzidas no teu texto não podem ser tomadas em sentido literal, mas sim no quadro de um jogo de linguagem que pretende por vezes significar precisamente o inverso do que se expressa. Só faltou fazer um desenho! Ou seja, alguém na Associação José Afonso que nunca ouviu falar em figuras de estilo lembrou-se de jogar um jogo de que não conhece bem as regras. E espalhou-se ao comprido. Era o que me aconteceria se tentasse praticar futebol americano ou patinagem artística, por exemplo. E lá teve a ERC de perder uns preciosos minutos da sua buliçosa existência a fazer o papel de mestre-escola.
O Mercado Municipal de Tomar funcionou na sexta-feira, 20 de Setembro, dia de greve da função pública, graças à intervenção do presidente da câmara, Hugo Cristóvão, e da vereadora Rita Freitas, que tiveram de madrugar para abrir as portas aos vendedores. Obviamente, quem não gostou desta atitude foi o Sindicato dos Trabalhadores da Administração Local e Regional (STAL), que viu esbater-se um efeito bem visível da luta laboral graças aos autarcas fura-greves.
Compreendo a posição do STAL, porque se o exemplo pega e se alastra, as greves deixam de paralisar serviços e deixam de criar constrangimentos e problemas às organizações e às populações. E, assim, perde-se a capacidade de pressão sobre a entidade patronal que pode levar a algumas cedências. Este é realmente um precedente perigoso e se eu fosse sindicalista estaria preocupado. Hoje temos os autarcas a abrir os mercados, amanhã quem sabe se não os temos como auxiliares nas escolas, como coveiros nos cemitérios, a atender ao balcão nas repartições municipais e por aí fora, sempre que haja paralisações laborais. Haja autarcas para tanto serviço, porque as greves, essas, voltaram a estar na moda desde que a geringonça colapsou com estrondo.
Aquele abraço do
Serafim das Neves

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