Opinião | 16-10-2024 21:00

O cabeça de burro das cabeças de porco, o homem da camisola preta e a sacholada como arte marcial portuguesa

Emails do outro mundo

Evolutivo Serafim das Neves

Evolutivo Serafim das Neves
Um homem levou duas cabeças de porco para a reunião do executivo municipal de Vila Franca de Xira e, a certa altura, colocou-as na mesa onde estavam os vereadores participantes.
Quando li a notícia pensei que era um fornecedor que se tinha enganado no endereço do talho, ou um distribuidor traído pelas indicações do GPS. O presidente da câmara chamou a polícia, mas, quanto a mim, também se enganou. Devia ter chamado um oftalmologista para receitar uns óculos ao homem, ou fazer-lhe logo ali uma cirurgia à miopia. Pelo menos à miopia política.
A minha avó materna, que viveu num tempo a que muitos suspiram voltar, referir-se-ia ao caso dizendo que um cabeça de burro levou duas cabeças de porco para a reunião. E qualquer polícia desses bons tempos por quem tantos suspiram, teria afinfado, com gosto e galhardia, umas valentes chanfalhadas, nos lombos do artista...e na cabeça do burro.
Quem também sente saudades, de tempos ainda mais antigos do que os da minha avó, é um vereador da Câmara municipal do Entroncamento, o senhor Forinho, que levou uma camisola da tertúlia do seu coração para a reunião do executivo, que estava a ser transmitida online. Uma camisola preta, diga-se.
O presidente da Câmara interrompeu a transmissão online e houve logo sarrafusca com o Forinho da camisola preta, que teve o apoio de outros vereadores, mas estes sem camisolas pretas. Quem normalmente usa aquelas camisolas com a data da fundação de Portugal estampada são outros, e não é em reuniões de câmara. Enfim, gente fascinada pelas maravilhosas épocas em que tudo era resolvido à porrada.
Hoje enfiei-me no maravilhoso mundo autárquico e já não consigo sair daqui. Alpiarça é um daqueles concelhos que só tem uma freguesia, mas compensa com duas câmaras municipais. A câmara municipal propriamente dita e a da família Rosa do Céu, que governa a Casa e quinta dos Patudos, que José Relvas legou à terra. E as duas têm existência e funcionamento legal. E essa é a maior maravilha da coisa. São todos democraticamente eleitos...uns e outros.
Ali ao lado, em Almeirim, vive-se o drama do adeus às cenouras bebés que tinham sido anunciadas, há cinco anos, como as super-estrelas do investimento no concelho. Pelo que foi explicado, a fábrica de cenouras bebés vai para a zona de Pernes, Santarém, porque quem manda na água não deixa captar água para a lavagem das crianças, digamos assim, em Almeirim.
O presidente da câmara, Pedro Ribeiro, já veio dizer que não há crise, porque as cenourinhas vão ser sempre produzidas pelos agricultores lá do concelho. Acredito, mas cinco anos para descobrir isso...é capaz de ter sido tempo a mais, ou não??!!
Termino com um outro exemplo autárquico, da preservação das boas tradições. Um trabalhador sexagenário, da Câmara de Benavente, deu umas cacetadas com o cabo de uma enxada, a um colega...também sexagenário. A sacholada, arte marcial portuguesa por excelência, remonta, pelo menos, a 1143. Bons velhos e imorredoiros tempos.
Saudações rupestres
Manuel Serra d’Aire

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