Opinião | 22-10-2024 21:00

Que bem que se está na Lezíria do Tejo

Que bem que se está na Lezíria do Tejo
À margem/opinião
A Lezíria do Tejo precisa de mais unidades hoteleiras para captar mais turistas

Alguns ribatejanos têm o prazer de viver num mundo maravilhoso, que a natureza nos oferece, onde os turistas não poluem nem vêm trocar os nossos sonos.

Alguns ribatejanos têm o prazer de viver num mundo maravilhoso, que a natureza nos oferece, onde os turistas não poluem nem vêm trocar os nossos sonos. É difícil dizer bem do que gostamos quando apenas nos limitamos a tirar proveito daquilo que já herdamos desde crianças. É o que se passa na Lezíria do Tejo, ao longo de quase todo um território à beira Tejo, onde podemos sentir-nos no melhor dos mundos. Afinal os números que divulgamos nesta edição explicam este estado de alma de quem está atento à evolução do território. Não é fácil sermos os últimos na tabela das regiões com menos turismo, se estamos às portas de Lisboa onde o ar é irrespirável, as casas e o custo de vida custam os olhos da cara.
Tudo indica que está na hora de partilharmos um pouco do nosso património com os turistas que vão para Sintra e passam o tempo no carro; vão ver as muralhas de Óbidos e não sabem o que perdem por não visitarem Santarém. Com a lição que temos aprendido com o turismo de massas noutras regiões, bem podemos esperar que os políticos se entendam com os promotores e de últimos passemos a primeiros em qualidade e organização. Assim, mais ou menos, como tem vindo a acontecer no Médio Tejo e nas cidade de Tomar e Ourém que são um bom exemplo mesmo aqui ao lado.

Lezíria do Tejo anda pelo fundo da tabela no alojamento turístico

A Lezíria do Tejo, que agrega 11 municípios, é dos territórios do país com menor capacidade de atracção de hóspedes no panorama nacional, em boa parte devido à escassez de camas. A escassez de alojamento turístico é um problema identificado há muito, mas há novos investimentos no horizonte.

O território da Lezíria do Tejo, que agrega 10 municípios do distrito de Santarém e o município de Azambuja, no distrito de Lisboa, está no fundo da tabela, a nível nacional, no que toca ao alojamento turístico, tendo alternado o último lugar nos últimos anos com a região do Tâmega e Sousa, no norte do país.
Dados relativos a 2022 indicam que a Lezíria do Tejo ocupava nesse ano a última posição entre as 23 regiões do continente (NUTS III) no indicador “Capacidade de alojamento nos estabelecimentos de alojamento turístico por 1000 habitantes”, com apenas 9,4 camas por 1000 habitantes. Entre 2014 e 2022 só em três anos (2014, 2018 e 2019) a Lezíria do Tejo deixou a última posição, que foi ocupada pela região do Tâmega e Sousa.
Esses dados estão plasmados no relatório final do Plano Estratégico de Turismo Sustentável da Lezíria do Tejo 2030, datado de Setembro de 2023. Numa economia onde o turismo ganha cada vez mais preponderância, esses números são preocupantes, tendo em conta até o diferencial significativo para territórios vizinhos como o Médio Tejo (53 camas por mil habitantes) Alto Alentejo (com 42,6 camas por mil habitantes) ou Oeste (32,2 camas por mil habitantes). Entretanto já foram ou vão ser realizados investimentos nesse campo, como um novo hotel de 4 estrelas em Santarém que está em construção, mas o défice de alojamento turístico continua a estar na agenda de autarcas da Lezíria e dos responsáveis pela promoção do turismo na região.
Tal como o algodão, os números não enganam. No mesmo documento lê-se que, em 2022, a Lezíria do Tejo conseguiu captar 125.560 hóspedes (8,1% dos hóspedes do Alentejo e 0,5% do país) que deram origem a 229.741 dormidas (7,6% da região do Alentejo e 0,3% do país), o que representa o segundo pior desempenho das regiões NUTS III do continente. Santarém teve mais de metade do total de hóspedes e dormidas na Lezíria do Tejo. Já antes da pandemia a Lezíria do Tejo posicionava-se como a segunda região do continente com o menor número de hóspedes e dormidas, superando apenas a região da Beira Baixa.
Apesar dos números pouco animadores, e de uma pandemia pelo meio, na maior parte dos concelhos da Lezíria o número de estabelecimentos de hotelaria e de camas aumentou entre 2017 e 2022, com excepção para Azambuja, que teve uma redução no número estabelecimentos (para 6) e de camas (para 186). Em 2022, o concelho com mais estabelecimentos hoteleiros era Santarém, com 19 e um total de 763 camas. Salvaterra de Magos e Alpiarça estavam no pólo oposto, com apenas 3 estabelecimentos e três dezenas de camas.

Mais duas mil camas no horizonte
É previsível que nos próximos tempos a oferta de alojamento na Lezíria vá continuar a subir. O relatório evidencia a concentração da actual oferta de alojamento em Santarém, mas aponta também um alargamento territorial nas intenções de investimento. Há 25 empreendimentos turísticos perspectivados, num total de 2012 camas, sendo que 72% das unidades e 55,7% das camas concentram-se nos concelhos de Santarém, Benavente e Cartaxo. Mas não é despiciendo lembrar que esses números são anteriores ao anúncio da localização do novo aeroporto no sul do distrito, no concelho de Benavente, que deverá trazer consigo novos investimentos.
O relatório refere que o concelho de Santarém tem polarizado a captação de turistas para a região, tendo concentrado em 2022 mais de 45% dos hóspedes e dormidas na região. Santarém, em conjunto com os concelhos de Almeirim, Benavente e Rio Maior foram responsáveis por mais de três quartos dos hóspedes e das dormidas na Lezíria do Tejo em 2022. Contudo, o indicador “dormidas por 100 habitantes” revela que o concelho de Golegã apresenta o valor mais elevado dos concelhos da Lezíria do Tejo desde 2017. Foi o único concelho da região que atingiu mais de 200 dormidas por 100 habitantes (278,3 dormidas em 2019) e, mesmo no pior ano (2020) em que registou 129,5 dormidas, superou os outros concelhos entre 2017 e 2022, com 220,8 dormidas por 100 habitantes.
Em entrevista recente a O MIRANTE, o vice-presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo (ERTAR), Pedro Beato, reconhecia o problema. “Precisamos de mais camas e de mais hotéis. E precisamos numa lógica de hotelaria que cria destino. Os hotéis muitas vezes criam esse destino, porque criam a disponibilidade, a oferta para acolher”, dizia.

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