Aproveitar as ondas de assaltos para fazer surf e meter portas giratórias para as saídas dos indignados
Animado Serafim das Neves
Animado Serafim das Neves
Depois de ler tantas notícias sobre políticos locais que abandonam as reuniões dos executivos municipais a que pertencem, acometidos de homéricas birras, mas que logo regressam para não perderem uns preciosos minutinhos de exposição e fama, nas transmissões online das mesmas, venho sugerir que se instalem portas giratórias nas salas onde elas decorrem.
Não sei se te lembras do tempo do “agarra-me se não eu mato-me”, que começava por ser um ameaçador “agarrem-me se não eu mato-o”, e que tantas alegrias nos proporcionou em convívios de decilitragem de cerveja e alimentados por tremoços e discussões sobre assuntos que agora já só se discutem em canais especializados, com um painel - gosto desta palavra - de comentadores - então desta ainda gosto mais.
A diferença é que fazíamos aquilo como amadores e ainda tínhamos que pagar a conta. Agora as inflamações deles, digamos assim, saem-nos mais caras porque todos ganham, ou ordenado, ou senhas de presença se forem da oposição, e o dinheiro não lhes sai das carteiras, mas dos nossos impostos. Mas a culpa não é deles, coitados, é nossa, porque os elegemos... lá está a maravilha da democracia.
Há dias o presidente da CIP - Confederação Empresarial de Portugal, Armindo Monteiro, fechava um texto de reflexão sobre a situação económica do país, com o título: “Vai mesmo ficar tudo bem?”, citando um poema do Mário Cesariny.
“Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos/ frente ao precipício/ e cair verticalmente no vício// Não é verdade rapaz? E amanhã há bola/ antes de haver cinema madame blanche e parola// Que afinal o que importa não é haver gente com/ fome/ porque assim como assim ainda há muita gente que/ come”.
Refiro este caso porque é sempre melhor citar poetas do que jogadores e treinadores de futebol, autarcas e políticos em geral, ou comentadores televisivos. O Portugal de hoje é o Portugal de ontem, que Mário Cesariny tão bem retratou e Alexandre O’Neil, também, já agora, em poemas como “O País Relativo”.
“País engravatado todo o ano/ e a assoar-se na gravata por engano// País dos gigantones que passeiam/ a importância e o papelão,/inaugurando esguichos no engonço/do gesto e do chavão. // E ainda há quem os ouça, quem os leia/ e lhes agradeça a fontanária ideia!”
A elite do surf vai estar, em Março do ano que vem, na praia de Supertubos, em Peniche, para disputar a terceira etapa do circuito principal da Liga Mundial de Surf. É nestas notícias que se vê que a classe política aqui da região, não sabe aproveitar o que temos. Todos os dias a falarem de ondas e vagas e de crimes e deixam o campeonato de surf passar ao largo?
Não me despeço com frases do tempo da televisão a preto e branco e um só canal, como: “A bem da Nação” e “Deus, Pátria e Família”, como fizeram certos eleitos locais em Santarém e Salvaterra de Magos, mas espero que tais “heróis valentes”, digamos assim, recebam, pelo Natal, um manual da antiga quarta classe com as fotografias dos “chefes da Nação”, e uma boa enxada, para irem cavar batatas ou fazer cadabulhos...de sol a sol, claro!
Saudações poéticas
Manuel Serra d’Aire