Opinião | 18-11-2024 20:12

Universidade do Ribatejo: um sonho e uma necessidade

Universidade do Ribatejo: um sonho e uma necessidade
Miguel de Oliveira Martins

A Universidade do Ribatejo deve tornar-se um tema prioritário na discussão pública. Num contexto de descentralização que visa reduzir a pressão urbanística sobre Lisboa, que enfrenta e enfrentará crescentes desafios decorrentes da urbanização acelerada, Santarém precisa de afirmar-se como um verdadeiro polo central do Ribatejo.

A Escola Agrária de Santarém celebrou recentemente 136 anos de existência, consolidando-se cada vez mais como um marco da cidade e um exemplo de como a tradição pode harmonizar-se com a inovação.

É precisamente sobre inovação que gostaria de refletir, particularmente no que respeita a um projeto de grande relevância: a Universidade do Ribatejo. Esta ideia, que foi brevemente considerada aquando da fundação do Instituto Politécnico de Santarém, representa um sonho de longa data, alimentado por uma das figuras mais ilustres de Santarém, o Professor Joaquim Veríssimo Serrão, Deus o tenha. Este sonho, que também faço meu, creio ser mais do que pertinente para um debate.

A Universidade do Ribatejo deve tornar-se um tema prioritário na discussão pública. Num contexto de descentralização que visa reduzir a pressão urbanística sobre Lisboa, que enfrenta e enfrentará crescentes desafios decorrentes da urbanização acelerada, Santarém precisa de afirmar-se como um verdadeiro polo central do Ribatejo. Este processo requer uma universidade que valorize as tradições locais, responda às tendências académicas contemporâneas e promova o rigor científico. Pretende-se uma instituição de ensino superior que, sendo classicamente orientada e ligada ao território, possa interagir profundamente com a região. Não deve ser mais uma universidade em Portugal: deve ser A Universidade do Ribatejo.

Em primeiro lugar, esta ligação que se propõe entre a terra e a academia manifesta-se nos estudos agrícolas, dada a relevância da Escola Agrária e o caráter agrícola que define a região do Ribatejo. Em segundo lugar, é na área da História que Santarém se destaca de forma notável. A cidade, bem como o Ribatejo no seu todo, constitui um repositório de património histórico vivo. Aqui jaz Pedro Álvares Cabral e, neste mesmo território, ocorreu um dos episódios mais importantes da História de Portugal, com a conquista liderada por Dom Afonso Henriques. Além disso, Santarém foi sede de mais de quinze Cortes antes de Lisboa se tornar o centro político do reino. Uma cola boração com o Centro de Investigação Prof. Doutor Joaquim Veríssimo Serrão e com a Diocese de Santarém poderia viabilizar uma abordagem interdisciplinar, associando estudos de ciências sociais e humanísticas, incluindo a área religiosa e os estudos teológicos. Já o Prof. Veríssimo Serrão tinha escrito no seu livro Marcello Caetano: Confidências no Exílio que a Diocese de Santarém, aquando da fundação do IP de Santarém, estaria disposta a fornecer instalações para estudos académicos. Trata-se de uma questão de diálogo com a Diocese. A articulação entre a academia e a Diocese pode ser fundamental para fortalecer as bases deste projeto. A Diocese de Santarém, que já expressou anteriormente, há mais de quarenta anos, a sua abertura para colaborar em iniciativas académicas, pode contribuir não apenas com instalações, mas também com um apoio simbólico e institucional significativo. Que se impulsione esse diálogo para criação de uma universidade que, enraizado nas tradições e nos valores locais, atenda às necessidades académicas e culturais da região do Ribatejo, contribuindo para o seu desenvolvimento e coesão social.

Assim, a criação da Universidade do Ribatejo não é apenas um sonho, mas uma necessidade estratégica para o desenvolvimento regional, um projeto que honra o passado enquanto projeta o futuro. Tal universidade, enraizada na tradição e aberta à inovação, poderia transformar Santarém num verdadeiro centro de conhecimento e de investigação para servir a região e o país.

Serve este texto para introduzir o tema e nada mais, abrindo caminho para que esta ideia seja discutida com seriedade e visão.

Miguel de Oliveira Martins

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