Opinião | 18-12-2024 07:00

José Manuel Roque: o "Último dos Moicanos"

José Manuel Roque: o "Último dos Moicanos"

José Manuel Roque foi o "Último dos Moicanos" a deixar-nos. Ficou um legado difícil de igualar. A sua inteligência, cultura, espírito arguto, conhecimento aprofundado dos problemas do país, permitiam-lhe fazer intervenções fundamentadas sobre os mesmos. Estas características aliadas à coragem, irreverência, e desprezo pelas personalidades públicas gelatinosas e ambíguas, tornaram-no numa pessoa implacável para todos aqueles que combatem a iniciativa privada, a economia de mercado ou os valores ocidentais.

Com o falecimento de José Manuel Cordeiro, José Júlio Eloy e José Manuel Roque, desapareceram três das maiores referências do empresariado do concelho e da região de Santarém.

Homens com percursos empresariais de excelente desempenho e resultados, não se limitaram a circunscrever a sua intervenção à esfera da atividade empresarial. Quer na gestão autárquica ou na ação política, quer na participação em organizações de cidadania respeitáveis ou na atividade associativa, deram o seu contributo e esforço para o desenvolvimento da comunidade onde viveram.

José Manuel Roque foi o último dos moicanos a deixar-nos. Ficou um legado difícil de igualar. A sua inteligência, cultura, espírito arguto, conhecimento aprofundado dos problemas do país, permitiam-lhe fazer intervenções fundamentadas sobre os mesmos. Estas características aliadas à coragem, irreverência, e desprezo pelas personalidades públicas gelatinosas e ambíguas, tornaram-no numa pessoa implacável para todos aqueles que combatem a iniciativa privada, a economia de mercado ou os valores ocidentais.

Todos os que privaram com ele recordar-se-ão de memórias que irão perdurar nas nossas vidas. Não sou a pessoa mais informada sobre os aspetos mais importantes da sua vida. Mas é difícil não recordar algumas das intervenções que assisti em reuniões onde estivemos juntos aquando da minha passagem pelo NERSANT. Fazia-se um silêncio sepulcral quando intervinha e era visível o incómodo e embaraço das pessoas a quem dirigia as suas verrinosas palavras. Recordo duas passagens. Numa reunião restrita com um Ministro do Trabalho, defendeu a liberalização do despedimento individual, ainda hoje tema tabu nas confederações patronais. O ministro contrariava os argumentos, justificando-se com o impedimento constitucional. José Manuel Roque respondeu-lhe de forma seca e incisiva: “O senhor tem razão. A constituição portuguesa proíbe os despedimentos, mas não impede as falências. Esse é o caminho que os senhores escolhem para cortejar os sindicatos contra os interesses da economia nacional”. Noutra ocasião, um economista universitário discursava sobre as insuficiências e a impreparação dos empresários na gestão das empresas. José Manuel Roque não se conteve, pediu para falar e disse-lhe: “Sabe uma coisa. Eu não consigo ouvir pessoas que fazem toda a carreira profissional a passar recibos, terem a veleidade de falar de cátedra sobre as empresas, sem nunca na vida terem passado um cheque ou avalizado uma livrança”. Era assim José Manuel Roque: combativo; irascível frontal; corajoso e solidário com os amigos. Por isso acho que as cartas e a correspondência desassombrada e corajosa que ao longo da sua vida enviou para ministros, diretores gerais, presidentes de câmara e dirigentes associativos, deviam merecer divulgação pública. Era uma forma de perpetuar a memória dum homem combativo e invulgar.


José Eduardo Carvalho
16/12/2024

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