Opinião | 06-01-2025 19:47

A mulher na Igreja Católica

A mulher na Igreja Católica

O não acesso da mulher ao ministério diaconal constitui um problema muito sério dentro da Igreja, muito maior que todos os outros que por aí pululam. Sim, o celibato não é um problema, sendo antes um sinal fortíssimo de generosidade num mundo cada vez mais hedonista.

Desgraçadamente, e desde as origens da humanidade, que a mulher tem sido encarada como um ser inferior face ao seu contraparte masculino. Maior paradoxo não existe: o homem ama, honra e reverência a sua mãe, ama incondicionalmente a sua filha, mas tem depreciado todas as restantes mulheres. Absurdo.

No mundo ocidental - que o esquerdismo tanto critica -, estando, todavia, ainda distante da paridade com o homem, a mulher hoje desfruta da liberdade de dizer sim, ou de dizer não, de poder optar por cuidar dos filhos a 100%, por privilegiar uma carreira profissional, ou por um misto de ambas as situações. Hoje tem essa liberdade.

A sociedade avançou, mas a Igreja Católica estagnou. Repare-se que foi apenas em 2016 que o Missal Romano foi revisto, de modo a permitir que as mulheres lavassem os pés na Quinta-feira Santa; anteriormente, permitia-se que apenas os homens o fizessem.

Na realidade, a evolução da mulher na Igreja Católica - à qual pertenço como Baptizado -, tem sido penosa e, ultimamente, particularmente dolorosa para mim. Sempre pensei que os jovens Padres e Bispos, nascidos já após o Concílio Vaticano II e educados nos valores que resultaram da natural transformação de anacrónicas e remotas mentalidades, iriam reconhecer a mulher como igual e integralmente merecedora de acolher os Dons de Deus. Não tem sido assim.

O não acesso da mulher ao ministério diaconal constitui um problema muito sério dentro da Igreja, muito maior que todos os outros que por aí pululam. Sim, o celibato não é um problema, sendo antes um sinal fortíssimo de generosidade num mundo cada vez mais hedonista.

Continuo a não entender a argumentação para a não ordenação de mulheres, até porque ela não assenta em nenhum pressuposto teológico, mas apenas em convicções masculinas definidoras de um velho mundo que já não existe. Aqui a tradição surge como álibi para o “status quo”.

Incrivelmente, ainda existe na Igreja quem insista em S. Tomás de Aquino e em S. Boaventura, para alicerçar muita da justificação para impedir a ordenação de mulheres diaconisas.

Os documentos da Igreja que, entretanto, foram sendo publicados sobre a justificação para a não ordenação das mulheres, são todos eles débeis circunlóquios de autojustificação, donde emana uma teologia de autoridade que não consegue responder a algo irracional. Justificar o irracional é como partir pedra com um lenço.

Existe um pressuposto de reserva masculina, dado como garantido, que a teologia optou por não questionar. Insiste-se na justificativa, simples e descuidada, de que Jesus era homem, assim como todos os apóstolos. Bom, sendo Jesus homem, também ele representa a humanidade constituída por mulheres e por homens.
Quanto aos apóstolos serem homens, tal facto reflecte apenas a sociedade de então, a “normal” menoridade do estatuto da mulher na sociedade judaica.

Como homem de Fé, é uma impossibilidade perceber um Jesus discriminatório. Imagino sim, Deus Pai tristíssimo por assistir a uma Igreja obstinada que insiste em consternar metade da sua própria humanidade.

Durante mais de mil anos, as mulheres serviram como Diaconisas. A única pessoa na Escritura chamada de Diácono é Santa Febe, que se acredita ter viajado para Roma como emissária de S. Paulo, levando a sua Carta aos Romanos.

Além da substância do problema, a imagem que a Igreja transmite às jovens mulheres não é nem bonita, nem estimulante. Não é uma imagem a cores. É antes uma imagem desusada e a preto e branco. Fogem dela.

Não se trata de ter ainda mais discernimento sobre o assunto. Trata-se sim da sobrevivência da própria Igreja.

P.N.Pimenta Braz

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