A morte definitiva de Eça de Queirós
Foi com profunda tristeza e revolta que assisti à profanação da sua sepultura pela classe política lisboeta, a mais satirizada por Eça, com o único objectivo de sujeitar o escritor à suprema e definitiva humilhação de ver as suas ossadas depositadas num dos museus mais sinistros e ridículos da República de Lisboa.
Foi com Eça que aprendi a ler e a escrever. Cresci fascinado pela Geração de 70 e pela forma como Eça escrevia. A frase curta e assertiva. O uso desconcertante do adjectivo e do advérbio. A ironia subtil, inteligente, demolidora.
Foi, por isso, com profunda tristeza e revolta que assisti à profanação da sua sepultura pela classe política lisboeta, a mais satirizada por Eça, com o único objectivo de sujeitar o escritor à suprema e definitiva humilhação de ver as suas ossadas depositadas num dos museus mais sinistros e ridículos da República de Lisboa.
O Ridículo, verdade seja dito, na sua dimensão sublime e grandiloquente, sempre foi o Grande Desígnio Nacional.
Sendo certo que a classe política lisboeta, na sua manifesta hipocrisia, só teve o desplante de levar a cabo esta iniciativa, a que cinicamente chamou homenagem, após ter garantido, com as suas políticas educativas, que Eça nunca mais voltaria a ser lido nem pela actual geração, nem pelas gerações vindouras. E, mesmo que fosse, graças ao grau de iliteracia generalizado, cultivado e implantado pelos governos da República, nunca seria sequer entendido.
Eça está definitivamente morto e enterrado. A classe política lisboeta pode finalmente dormir descansada.
Santana-Maia Leonardo