Opinião | 11-01-2025 12:44

A morte definitiva de Eça de Queirós

A morte definitiva de Eça de Queirós

Foi com profunda tristeza e revolta que assisti à profanação da sua sepultura pela classe política lisboeta, a mais satirizada por Eça, com o único objectivo de sujeitar o escritor à suprema e definitiva humilhação de ver as suas ossadas depositadas num dos museus mais sinistros e ridículos da República de Lisboa.

Foi com Eça que aprendi a ler e a escrever. Cresci fascinado pela Geração de 70 e pela forma como Eça escrevia. A frase curta e assertiva. O uso desconcertante do adjectivo e do advérbio. A ironia subtil, inteligente, demolidora.

Foi, por isso, com profunda tristeza e revolta que assisti à profanação da sua sepultura pela classe política lisboeta, a mais satirizada por Eça, com o único objectivo de sujeitar o escritor à suprema e definitiva humilhação de ver as suas ossadas depositadas num dos museus mais sinistros e ridículos da República de Lisboa.

O Ridículo, verdade seja dito, na sua dimensão sublime e grandiloquente, sempre foi o Grande Desígnio Nacional.

Sendo certo que a classe política lisboeta, na sua manifesta hipocrisia, só teve o desplante de levar a cabo esta iniciativa, a que cinicamente chamou homenagem, após ter garantido, com as suas políticas educativas, que Eça nunca mais voltaria a ser lido nem pela actual geração, nem pelas gerações vindouras. E, mesmo que fosse, graças ao grau de iliteracia generalizado, cultivado e implantado pelos governos da República, nunca seria sequer entendido.

Eça está definitivamente morto e enterrado. A classe política lisboeta pode finalmente dormir descansada.

Santana-Maia Leonardo

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