O Ascensor de Santarém
A ideia de um ascensor em Santarém, que remonta a 1861, apresenta-se hoje com uma pertinência renovada. As cidades inteligentes do futuro serão aquelas que souberem adotar soluções inovadoras para desafios antigos. Assim, é legítimo sonhar com o dia em que qualquer cidadão, residente no planalto, possa chegar à Ribeira em apenas dois minutos, sem recurso ao automóvel.
Na esteira das notícias recentes que têm ecoado após a última Assembleia Municipal, onde se abordou o persistente problema do estacionamento na Estação Ferroviária de Santarém, impõe-se uma reflexão crítica e propositiva sobre o tema. Com a introdução do Passe Ferroviário Verde, iniciativa do Governo da República, o número de utentes ferroviários conheceu um aumento significativo. Os escalabitanos, para quem a Estação de Santarém constitui o ponto de acesso mais próximo à rede ferroviária, têm recorrido cada vez mais ao transporte ferroviário para as suas deslocações diárias, seja para Vila Franca de Xira, para a capital, ou para outro local ao longo do Tejo. Contudo, a configuração geográfica peculiar da cidade – com o planalto a elevar-se sobre a Ribeira – torna inevitável que mesmo aqueles residentes no centro urbano tenham de utilizar os seus automóveis para alcançar a estação, utilizando o carro para fazer percursos de menos de cinco minutos.
Este acréscimo no fluxo de passageiros veio acompanhado de uma grave insuficiência estrutural. A emissão do Cartão CP, indispensável para o carregamento do Passe Ferroviário Verde, enfrenta atrasos de até seis a sete semanas. Este obstáculo burocrático apenas agrava a pressão sobre as condições já deficitárias do estacionamento, cujo panorama tem todas as condições para se tornar mais crítico nos próximos meses.
Durante a Assembleia Municipal, o Presidente da Câmara Municipal de Santarém reconheceu a urgência da questão, propondo como solução a aquisição de terrenos adjacentes para ampliação da capacidade de estacionamento. Tal proposta, conquanto louvável na sua intenção imediatista, carece de uma visão estratégica mais abrangente, própria de uma cidade que almeja uma evolução sustentável e inteligente. É neste contexto que proponho a reintrodução da ideia tão discutida quanto esquecida do ascensor.
A ideia de um ascensor em Santarém, que remonta a 1861, apresenta-se hoje com uma pertinência renovada. Nos dias que correm, em que o impacto ambiental e a eficiência urbana ganham crescente relevância, a implementação de um ascensor entre o planalto e a Ribeira seria não apenas uma solução funcional, mas também um marco de modernidade para Santarém. Embora muitos possam considerar que os tempos dos ascensores ficaram para trás, a realidade demonstra que estas infraestruturas, quando bem integradas no tecido urbano, podem reduzir drasticamente a dependência do automóvel e, como tal, menor congestionamento rodoviário.
A reabertura deste debate é, a meu ver, essencial. A resolução da problemática do estacionamento não deve restringir-se a medidas paliativas centradas no planeamento rodoviário. Urge explorar alternativas que desincentivem o uso do automóvel em Santarém, fomentando, por exemplo, o acesso direto à Estação, na Ribeira, através de um
sistema de transporte vertical eficiente e acessível.
As cidades inteligentes do futuro serão aquelas que souberem adotar soluções inovadoras para desafios antigos. Assim, é legítimo sonhar com o dia em que qualquer cidadão escalabitano, residente no planalto, possa chegar à Ribeira em apenas dois minutos, sem recurso ao automóvel. Este é o tipo de visão que Santarém merece e que devemos procurar concretizar.
Miguel de Oliveira Martins