Opinião | 20-02-2025 23:18

A revolução continua

A revolução continua

Além dos colossais negócios que quer fazer com a Rússia, o Presidente Trump julga que vai conseguir separar o Sr. Putin do Sr. Xi Jinping. Ingénua América, que desconhece a paciência chinesa e que vai acabar por perder a Europa, envelhecida é certo, mas ainda com muita convicção adormecida que lhe poderia dar muito jeito.

O Presidente Trump revelou a sua quintessência. Sem surpresas, aliás.

Já o seu fâmulo n.º 1, o vice-presidente J.D.Vance, proferiu um discurso iníquo em Munique que apenas surpreendeu quem ainda estava a dormir na forma.

Espantoso foi mesmo o adestramento exibido por alguns comentadores, que conseguiram avistar uma grandiloquente prédica, nela vislumbrando uma excelsa genialidade a qual, dizem eles, ficará nos anais da história. Sim, ficará, mas pelos piores motivos.

Como é que se consegue levar a sério alguém que se atreve a apregoar que o grande inimigo da Europa é a sua falta de democracia (!), ignorando olimpicamente uma guerra que decorre em solo europeu, causada por uma invasão protagonizada pela Federação Russa?

Foi profundamente aviltante, vindo de uma administração americana que estimulou aquele triste ataque ao Capitólio no dia 6 de Janeiro de 2021.

Ver genialidade numa sonsice discursiva, é apelidar de lerdos todos aqueles que sempre lutaram pela democracia liberal e verdadeiramente livre, americanos incluídos.

Uma hermenêutica política que tenta justificar desvarios indisfarçáveis, é sempre tortuosa, servindo para assegurar justificações culturais de tribo. Além de triste, recorda também as contínuas e criativas justificações que o PCP proferia sobre os estropícios que se sucediam na felizmente extinta União Soviética.

A pregação de J.D.Vance, teve o seu seguimento em três trágicos e cruéis momentos do Presidente Trump: quando este acusou o Presidente Zelenski de ser o responsável pela guerra; quando tenta extorquir tudo o que puder da riqueza ucraniana e quando adoptou como sua, uma intriga do Sr. Putin, nomeadamente, quando exigiu eleições na Ucrânia. Bom, é como se o Presidente Roosevelt tivesse exigido eleições a Winston Churchill durante a II Guerra e o tivesse apelidado de ditador…

Foram os EUA - e a Europa - que apoiaram e incentivaram os ucranianos a resistirem, prometendo-lhes fidelidade eterna. O Presidente Trump desprezou o airbag de protecção do Ocidente que a Ucrânia erigiu com os seus mortos. Quanto a pagamentos, Sr. Trump, o povo ucraniano já pagou. Como? Com as suas vidas.

O acordo sobre a Ucrânia entre o Sr. Putin e o Presidente Trump já está finalizado e desenhado. Agora importa apenas encenar negociações, à boa maneira de Hollywood. Tretas.

Mas claro que é legítimo a América querer largar as suas obrigações europeias. Mas então, porque se envolve tanto nas negociações para o fim da guerra? Para agradar pura e simplesmente ao Sr. Putin. Para ele, a Ucrânia não existe.

Além dos colossais negócios que quer fazer com a Rússia, o Presidente Trump julga que vai conseguir separar o Sr. Putin do Sr. Xi Jinping. Ingénua América, que desconhece a paciência chinesa e que vai acabar por perder a Europa, envelhecida é certo, mas ainda com muita convicção adormecida que lhe poderia dar muito jeito.

O Presidente Trump e o Sr Putin têm uma obsessão comum: sepultar a União Europeia. Aquele porque lhe permitiria lidar com países individual e economicamente enfraquecidos, além de exterminar o grande concorrente do dólar – o euro; o último, para poder alargar, à vontade, o seu espaço vital.

Aqui chegados, estamos sob um ponto de não retorno. A Europa vai mudar. Para já, vai ter de cortar nos seus orçamentos, desviando montantes substanciais para a defesa – ui, que vai doer…- e voltar a aprender a morrer por causas que lhe pareciam já muito distantes.

Doravante, quem é que vai querer o apoio dos EUA, sabendo que o homem do fraque lhes aparece depois na ombreira da porta?

Pedro Pimenta Braz

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