Os políticos quimicamente puros, as notícias credíveis e rigorosas sobre o fim do mundo e o destino das crianças nascidas de homens
Ilustrado Serafim das Neves
Ilustrado Serafim das Neves
Desde a altura em que comecei a ler jornais, e a fazer fé nas notícias que li, a terra já foi destruída por asteróides (não confundir com esteróides) umas cinco ou seis vezes; a cura para o cancro já foi descoberta uma cinquenta vezes; a terceira guerra mundial já começou umas quatro vezes e houve, pelo menos, três homens que engravidaram, embora não se saiba, por questões de alta segurança, onde foram paridas e onde param as crianças.
São notícias que contribuíram para a formação social e humana de gerações e gerações e que fizeram de mim o que sou hoje. É sempre importante estarmos informados e melhor ainda quando a informação é credível e rigorosa. E é por isso que evito as redes sociais onde prolifera muita mentirola descarada.
Sobrepondo-se às eleições autárquicas deste ano, as notícias sobre as eleições presidenciais do ano que vem têm-me entrado pela casa adentro mesmo com a televisão desligada ou sintonizada nos canais de desenhos animados.
E já vão aparecendo promessas eleitorais muito entusiasmantes, digamos assim, como aquela de um candidato, que ainda nem é candidato, que promete dissolver a Assembleia da República e convocar eleições sempre que os governos não cumpram as promessas feitas aos eleitores. Animação não vai faltar, se ele for candidato e ganhar.
E, se a ideia dele vier a ser aplicada às autárquicas, vamos andar numa roda viva, nos próximos quatro anos. Mas a vida política perde a piada toda. O que vai fazer a oposição, se os candidatos eleitos cumprirem todas as promessas que fizerem durante a campanha eleitoral?!
Como vamos viver com políticos quimicamente puros e sem pecado, autênticas virgens puríssimas, como já não há, nem nunca houve?!! Imagina os nossos deputados sem qualquer interesse conhecido, para evitar acusações de favorecimento, e com mulheres, filhos, pais, avós, primos e vizinhos na mesma situação...até à quinta geração??!!!
Nada de gostar bifes para não ser acusado de favorecer o sector das carnes e atentar contra o ambiente. Nada de soja e comida biológica para não ser visto como facilitador dos negócios a ela ligados. Nada de música clássica para não discriminar a música ligeira. Nada de peixe para não ser um exterminador de espécies marinhas. Nada de gostar de queijo da serra para não ser acusado de querer extinguir o de Azeitão. Nada de...e de...e de...
Fátima Galhardo, vereadora e vice-presidente da câmara de Coruche há mais de vinte anos, disse, em Dezembro, que queria ser presidente de câmara e que iria lutar para ser candidata ao cargo, mas a luta foi breve e ela volta a ser segunda na lista do PS.
A modéstia da Dona Fátima Galhardo fez-me pensar em Dona Luísa de Gusmão, espanhola de Huelva que, quando o marido, D. João Duque de Bragança, em 1640, hesitava em ser rei, lhe disse que preferia ser rainha por um dia que duquesa toda a vida. Há um amigo nosso que costuma dizer que há a fibra e a febra, mas penso que não se aplica a este caso, pois não?!
Um olé com castanholas
Manuel Serra d’Aire