Opinião | 14-03-2025 10:44
A queda do Governo e Santarém

Miguel de Oliveira Martins
A título pessoal, a atuação deste Governo permitiu-me residir na cidade que escolhi e pela qual nutro profundo apreço: Santarém. Essa possibilidade materializou-se através da implementação do Passe Ferroviário Verde, que, por um custo mensal de vinte euros, viabiliza a deslocação diária para Lisboa.
No passado dia 11, o Governo cessou funções na sequência da rejeição de uma moção de confiança. Apesar da declaração de voto individual de Fernando Medina, a posição assumida pelo Partido Socialista revelou-se contrária à vontade expressa do eleitorado, precipitando a dissolução do executivo. Este desfecho político interrompe projetos em curso e gera lacunas na governação, com impactos diretos na vida quotidiana dos cidadãos. Nesse contexto, questões como as avenças do Primeiro-Ministro assumem uma relevância secundária face às consequências práticas desta mudança. Não se trata de meros indicadores económicos abstratos, frequentemente distantes da realidade vivida pela população, mas de medidas concretas que afetam o quotidiano de milhares de portugueses.
A título pessoal, a atuação deste Governo permitiu-me residir na cidade que escolhi e pela qual nutro profundo apreço: Santarém. Essa possibilidade materializou-se através da implementação do Passe Ferroviário Verde, que, por um custo mensal de vinte euros, viabiliza a deslocação diária para Lisboa. O impacto desta medida é inegável. Quem utiliza regularmente os serviços ferroviários em Santarém sabe que a afluência de passageiros aumentou significativamente, fenómeno evidente nos comboios das 7h33, 8h08 e 8h29, bem como na crescente escassez de estacionamento nas imediações da estação. Contudo, subsistem desafios que exigem resposta. O diálogo entre a Câmara Municipal e o Governo, fundamental para a melhoria das condições ferroviárias, corre o risco de ser relegado para segundo plano. O necessário reforço do número de carruagens ou a introdução de mais composições poderá ser adiado em nome do calendário eleitoral. Com a campanha em curso e a previsível dispersão de prioridades, a gestão da nação tende a perder centralidade. Acresce a possibilidade, dependente da vontade soberana dos eleitores, de uma mudança governativa, o que poderá comprometer uma relação institucional até agora profícua entre a Câmara Municipal de Santarém e o Executivo.
Neste cenário, os cidadãos que optaram por se estabelecerem Santarém, bem como aqueles que regressaram à sua terra natal, mas continuam a trabalhar em Lisboa devido à centralização das oportunidades na capital, veem-se agora desamparados. Importa, pois, que o próximo ato eleitoral favoreça aqueles que demonstraram empenho e capacidade para dinamizar e repovoar Santarém – ainda que indiretamente, através de políticas públicas que impactaram significativamente a cidade e a região.
Menos debate sobre avenças e mais investimento em transporte público. Mais comboios, mais carruagens, maior frequência e melhor infraestrutura de apoio, nomeadamente no que se refere ao estacionamento, cujas carências serão mitigadas em breve pela própria Câmara Municipal, com o projeto do funicular e a criação de novos espaços de estacionamento. Criar o Passe Ferroviário Verde sem uma avaliação abrangente dos seus efeitos, para além dos números de emissões do Cartão CP, é deixar o trabalho incompleto. O Partido Socialista, ao forçar a queda do Governo, comprometeu a continuidade de inúmeros projetos ainda em fase de execução. Que as próximas eleições permitam retomar e concretizar o que ficou por concluir.
Miguel de Oliveira Martins
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