Opinião | 26-03-2025 21:00

Dissertação sobre as condições atmosféricas e a tempestade Jana que homenageou uma família ribatejana

Emails do outro mundo

Eleitor Manuel Serra d’Aire

Eleitor Manuel Serra d’Aire
As televisões estão de piquete há mais de uma semana para acorrerem às cheias no Ribatejo. É verdade que o Tejo ainda não galgou as margens de forma musculada, mas com os terrenos saturados de água da chuva tudo se mistura e para quem olha para a lezíria com olhos de Lisboa aquilo acaba por ser tudo igual. No fim-de-semana, um canal televisivo que se pela por estas coisas como eu salivo por uma imperial gelada com tremoços numa tarde de Verão anunciava estradas fechadas que continuavam abertas, evidenciava a confusão que a geografia gera em certas cabeças e, basicamente, preparava-nos para o dilúvio.
Infelizmente, ninguém se lembra de organizar procissões e de fazer promessas para a chuva cessar, ao contrário do que acontece quando se trata de secas severas. Provavelmente, é porque ninguém gosta de andar com andores às costas debaixo de uma carga de água, digo eu. Seja por que for, temos aqui uma evidente discriminação a que os sempre vigilantes zeladores da inclusão e da igualdade deviam dar devida atenção e agir em conformidade. Aliás, que eu saiba, também não há danças da seca, apesar do nosso folclore riquíssimo, mas há danças da chuva - pelo menos noutras latitudes - que até podíamos importar, desde que não cobrassem tarifas aduaneiras exageradas.
Noutros tempos, as depressões, chuvadas, intempéries e aguaceiros dos mais diversos calibres e durações eram só isso. Actualmente, com esta mania de humanizar tudo o que mexe, qualquer carga de água de dimensão razoável ganha a alcunha de tempestade e, como se não bastasse, tem também direito a nome, por ordem alfabética à medida que se vão sucedendo as borrascas. Só este mês já tivemos direito a três, pelo menos, porque são umas atrás das outras, e uma delas chamou-me particularmente a atenção porque foi baptizada como Jana.
Até agora, com o nome Jana só conhecia um casal que tem feito vida na zona de Abrantes e, que se saiba, não é dado a mandar chapas de zinco pelos ares, a inundar garagens e a esfrangalhar guarda-chuvas. Mas fiquei satisfeito, porque finalmente vi alguma proximidade com esta região na escolha dos nomes das depressões. Até agora eram nomes vulgares aos magotes, finalmente surgiu algo fora da caixa e que nos diz alguma coisa. José Alves Jana, um filósofo e associativista cultural de Abrantes, e a esposa, Isilda Jana, ex-vereadora na Câmara de Abrantes, já podem ostentar no currículo, para a posteridade, a façanha de terem tido uma tempestade com o seu apelido ocorrida no ano da graça de 2025. Fica por satisfazer a curiosidade de saber que ventos foram semeados para colherem tal honraria, mas provavelmente quem tem a prerrogativa de dar nomes aos temporais deve estar bem informado sobre o contributo de Alves Jana para a evolução do pensamento abrantino contemporâneo e de sua esposa como farol do PS de Abrantes. Depois de um peixe chamado Wanda, tivemos uma tempestade chamada Jana.
Uma saraivada de abraços do
Serafim das Neves

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1709
    26-03-2025
    Capa Médio Tejo
    Edição nº 1709
    26-03-2025
    Capa Lezíria Tejo
    Edição nº 1709
    26-03-2025
    Capa Vale Tejo