Opinião | 08-05-2025 07:00

Um elogio ao ministro Pedro Duarte e uma boa razão para dormir na casa do cão

Um elogio ao ministro Pedro Duarte e uma boa razão para dormir na casa do cão

O governo caiu a menos de um ano de trabalho mas o ministro Pedro Duarte não deixou de cumprir o prometido à imprensa regional. Pelo menos 200 dos cerca de 308 concelhos de Portugal não têm uma livraria. Não faltará muito tempo para que também não tenham uma papelaria ou um local ou se vendam jornais.

O governo de Luís Montenegro caiu mas vai ficar na memória de muitos empresários e jornalistas que trabalham na imprensa local e regional. O ministro Pedro Duarte cumpriu uma das suas promessas de ajudar a imprensa local e regional, e corrigiu um erro crasso de um antigo governante do Partido Socialista, que há mais de duas dezenas de anos mandou cortar ao meio no incentivo à leitura com a mesma facilidade com que bebia água quando tinha sede. Já nessa altura Portugal era dos poucos países da Europa que não tinha políticas públicas de avaliação como havia na maioria dos países desenvolvidos. Mais de vinte anos passados nada mudou de substancial ao nível dessas avaliações, mas o ministro da tutela não saiu sem cumprir a promessa de ajudar a imprensa regional e local, e aumentou a comparticipação do Estado para 85% do valor total pago aos CTT.


Na última década fecharam mais de metade dos jornais que se editavam em Portugal. Pelo menos 200 dos cerca de 308 concelhos de Portugal não têm uma livraria. Não faltará muito tempo para que também não tenham uma papelaria ou um local ou se vendam jornais. O cerco aperta-se para a comunicação social de proximidade, e as empresas mais fracas, antes de começarem a poupar na tiragem, começam a trabalhar sem jornalistas que assegurem uma informação independente e de qualidade, limitando-se a republicarem textos sem qualquer validade para a cultura local, a grande maioria textos de opinião e de informação institucional.


O Congresso Mundial de Jornalistas atribuiu no passado dia 4 de Maio a Caneta de Ouro da Liberdade à Associação de Editores de Imprensa Regional da Ucrânia. Oleksii Pogorelov, presidente da Associação de Negócios de Mídia da Ucrânia, ressaltou na hora dos agradecimentos a motivação que inspira a imprensa independente a continuar seu trabalho. “Na Ucrânia, o jornalismo não é apenas uma profissão. É uma forma de sobreviver, uma forma de preservar a memória e uma forma de resistir”, disse, acrescentando que, “quando os jornalistas se calam, os ocupantes falam em seu lugar. Não escrevemos porque somos corajosos. Escrevemos porque o silêncio não é uma opção. O jornalismo independente não é um luxo, é a infraestrutura da liberdade”.


Escrevo esta crónica a poucos dias das eleições e depois de ter visto na televisão, em diferido, o debate entre os dois principais candidatos dos dois partidos mais representativos da democracia portuguesa. Juntei-me aos cerca de quase três milhões de portugueses que assistiram à contenda em directo e na hora da briga. Não sinto o orgulho de outros tempos por se aproximar a hora de votar mais uma vez. E não sinto qualquer remorso por me recusar a ver os debates organizados pelas televisões que, desde há muitos anos, se transformaram num lavar de roupa suja que nos deixa nervosos e sem sono, sabendo que o que está em causa para o nosso futuro nunca será discutido nem conversado de forma a que tenhamos esperança num pacto de regime para as políticas da saúde da educação, da justiça, dos transportes e da habitação; o objectivo principal parece o mesmo dos tempos do PREC (Plano Revolucionário em Curso) em que as palavras de ordem eram dividir para reinar.


Por último: há quase quarenta anos que em certos dias acordo a meio da noite para corrigir uma frase, ou apenas uma palavra, de um texto que no outro dia vai sair em letra de forma, no meio de uma notícia ou de uma reportagem, depois do jornal chegar à máquina de impressão. As palavras são traiçoeiras e às vezes escrevemos barbaridades pensando que estamos a escrever um texto inspirado em Fernão Mendes Pinto ou Gabriel Garcia Marquez. Ainda hoje é assim, embora sinta menos o peso da responsabilidade. O JL (Jornal de Letras) saiu um dia destes para as bancas com um número dedicado a Camilo Castelo Branco publicando na capa, a toda a largura e altura, a foto (uma famosa pintura de João Abel Manta) de Eça de Queirós. Juro que, se um dia for responsável por um erro destes, vou dormir no quintal, na casa do cão, no mínimo durante um ano. E conto isto só para dizer que em quase quarenta anos nunca uma capa de O MIRANTE foi para a máquina de impressão sem que eu lhe tivesse posto os olhos em cima. JAE.

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