Maio continua a ser mês de aparições e breve dissertação sobre a arte de fazer campanha com ovos
Arrojado Manuel Serra d’Aire
Arrojado Manuel Serra d’Aire
É conhecida a faceta empreendedora das gentes de Ourém, com toda a justiça consideradas das mais dinâmicas e buliçosas da nossa região. A história está recheada de exemplos, sendo que o mais famoso, porventura, é o de três pastorinhos, petizes empreendedores que começaram cedo a guardar cabras - quando ainda não se falava de trabalho infantil - e num belo dia, em plena jornada laboral, deram de caras com Nossa Senhora levitando sobre uma azinheira na Cova da Iria, nos idos de 13 de Maio de 1917. O resto da história é por demais conhecida. E para se ter ideia da dimensão que atingiu esse fenómeno, nascido de um conjunto de aparições divinas, basta dizer que o Santuário de Fátima teve no ano passado receitas de 24,4 milhões de euros e um saldo positivo de 2,4 milhões de euros. Tivessem todas as nossas empresas, sobretudo as públicas, essa pujança económico-financeira e éramos uma espécie de Dinamarca ou Noruega com mais sol e menos loiras...
Mas voltemos ao essencial: 108 anos depois da aparição primordial em Fátima, houve mais uma aparição que ficou famosa, desta vez não envolvendo pastores imberbes mas sim um cinquentão empresário de Ourém (lá está a tal veia empreendedora de que falava no início). E não sucedeu em cima de uma azinheira mas antes em pleno relvado do Estádio da Luz, no final de um dos dérbis mais decisivos entre Benfica e Sporting. Um fenómeno presenciado ao vivo por mais de 60 mil pessoas e por alguns milhões via TV. O facto de o estádio ser também conhecido como catedral e de o protagonista ser um fervoroso fiel da religião benfiquista pode ajudar a explicar o episódio poucos dias depois de ter sido eleito um novo Papa, que escolheu o suspeito nome de Leão. Como boa aparição que se preze, continua envolto em segredo o teor da mensagem que o arrebatado crente quis passar através de palavras e gestos enérgicos, dirigidos nomeadamente a uns senhores vestidos de negro que por ali andavam e que, pelos vistos para o fiel, personificavam o demónio.
Continuo a seguir atentamente a campanha eleitoral para as autárquicas em Santarém, nomeadamente a que os candidatos fazem através das redes sociais. E nesse capítulo o Óscar do melhor argumento vai para o candidato socialista Pedro Ribeiro, que acumula essa condição com a presidência da Câmara de Almeirim. Alguns dos seus vídeos são extremamente criativos, como aquele que envolveu ovos (de Páscoa e de galinha) à mistura e que lhe deu direito a ganhar uns minutos de tempo de antena no programa humorístico televisivo do Ricardo Araújo Pereira. Como tenho o meu brio e para que não se pense que só esses dois humoristas sabem usar trocadilhos tendo os ovos como matéria-prima, também dou uma achega à coisa dizendo, em jeito de chalaça, que Pedro Ribeiro anda saído da casca e parece estar a contar muito com o dito cujo no cu da galinha, isto no que toca ao resultado eleitoral em Santarém.
Um abraço quebra-ossos do
Serafim das Neves