A memória do PRD e os republicanos brigões do PS e PSD

Depois do 25 de Abril de 1974 nunca o sistema político português sofreu um abalo tão grande como com a fundação do PRD. Foi preciso esperar quase 40 anos para surgir o Chega, que vem finalmente baralhar as contas aos republicanos brigões do PS e do PSD.
O MIRANTE não acompanha em termos noticiosos as campanhas eleitorais por razões de força maior. A lei é dura para com a comunicação social escrita quando um partido se sente discriminado e resolve fazer queixa do jornal. Seja em eleições autárquicas, ou legislativas, é impossível tratar todos por igual. Nem escrevendo com régua e esquadro se conseguiria fazer justiça como está escrito no papel. Curiosamente, em Portugal a lei não é igual para todos. As televisões e as rádios conseguem acordos que nenhum descontente consegue contrariar nem apelando às leis da República. Não é assim com os jornais locais e regionais que ficam num limbo perigoso para quem se sujeita a querer deitar a cabeça de fora. Nada que nos incomode uma vez que já nos habituámos a esta realidade que nos trata de forma desigual. Para nós o grande perigo desta duplicidade, deste regime democrático que se permite ter uma justiça que demora duas dezenas de anos a despachar um processo, que tem um ex-primeiro ministro acusado de corrupção sem julgamento há mais de uma década, para nós o grande perigo é descambar--se para uma sociedade que comece a vingar-se batendo com a cabeça na parede. Aparentemente foi isso que aconteceu no passado domingo. É assim que também fazem a grande maioria das crianças quando se revoltam com as injustiças dos pais: batem com a cabeça; é desta forma animalesca que se comportam também os loucos quando os contrariam ou não tomam a medicação: mordem--se, atiram-se para debaixo dos carros, destroem tudo o que está à sua volta.
A grande vitória do partido Chega nas últimas eleições é o voto dos descrentes na governação com os partidos do regime, principalmente com o Partido Socialista. Nada que não estivesse escrito nas nuvens. Só que as gentes da política estão demasiado comprometidas com os seus interesses e os seus lobbies. Vai daí criarem a oportunidade de aparecer um Messias. É um traste pior do que os piores do PSD e do PS? É muito pior. Mas sabe cavalgar a onda. Conseguiu o milagre de conquistar os votos que eram do PCP, do Bloco de Esquerda e, acima de tudo, do grande PS de Mário Soares, o maior político português de sempre, mas também o maior demagogo. E o país votou no Messias em massa mesmo sabendo que por trás dele existe um vazio de ideias, de projectos e soluções para os grandes problemas do país. E pior que tudo, uma chusma de dirigentes calhordas e ressabiados piores que os piores dos socialistas e social democratas. Com ele jamais sairemos da fossa em que muitos socialistas e social democratas nos continuam a afundar, nesta altura com muito mais culpas para o PS que para o PSD.
Há tempos fiz um convite a Hermínio Martinho para nos contar a história do nascimento e morte do PRD, e como é que foi possível criar um partido de raiz que abalou as muralhas dos três grandes partidos que sempre governaram Portugal. Depois do 25 de Abril de 1974 nunca o sistema político português sofreu um abalo tão grande como com a fundação do PRD. Foi preciso esperar quase 40 anos para surgir o Chega, que vem finalmente baralhar as contas aos republicanos brigões do PS e do PSD.
Hermínio Martinho é um homem sério, que não ganhou nada com a vida política, que saiu certamente porque foi a ele que entregaram a chave com o recado de que é obrigação dos últimos fecharem a porta. Hermínio Martinho deixou a promessa de um dia dar esse testemunho. Veremos se cumpre o prometido. Falo do assunto não por acaso. Ramalho Eanes foi a grande figura do PRD. E o General que tem dado exemplos de cidadania e de amor ao país, que não são vulgares nos políticos, está aí vivinho da silva para ver outro militar a meter-se ao barulho aparentemente com o denodo de Ramalho Eanes e com o mesmo sentido de missão que, honra lhe seja feita, marcará também para sempre a história da nossa democracia. JAE.