Resíduos nucleares no mar da Galiza e no Canhão da Nazaré
Bidões com resíduos nucleares, lançados ao mar entre 1949 e 1982, estão a ser monitorizados devido a dúvidas sobre problemas de corrosão. Oportunidade para lembrar que o Reino Unido lançou durante muitos anos resíduos radioactivos no Canhão da Nazaré, desconhecendo-se se há autoridades a fazerem o mesmo trabalho de monitorização.
O diário digital infolibre publicado em Madrid em castelhano e o Praza.gal publicado em galego informaram em 29 de Junho último que o navio oceanográfico francês L’Atalante estava a identificar os primeiros 1.000 bidões de aço e betão contendo resíduos radioactivos existentes no fundo do mar na Fossa Atlântica frente à Galiza.
Trata-se da Missão Nodssun, iniciada no dia 15 de Junho, a qual recorre ao submarino-robot Uly X, o qual pode chegar a 6.000 metros de profundidade. Pretende-se avaliar o estado físico dos bidões (alguns dos quais estão ali há mais de 70 anos), medir a radioactividade da água do mar dos sedimentos e dos organismos vivos. A longevidade dos bidões tem sido um dos problemas mais discutidos, porque se sabe que ocorrem corrosões. Além disso, não se sabe como se comportarão os bidões que contêm os produtos altamente radioactivos que têm uma semi-vida de muitas dezenas de milhar de anos.
Afinal foi a França, que resolveu lançar a monitorização através do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS). Importa saber que muitos cientistas desta entidade, bem como técnicos do Comissariat à l’ Énergie Atomique (CEA) - organização que esteve na origem dos programas nucleares militar e civil franceses, com relevante actividade de investigação e que desenhou e projectou os primeiros reactores nucleares franceses – são bastante críticos quanto ao programa nuclear francês.
Estes resíduos, com 140.000 toneladas, foram lançados entre 1949 e 1982 por Bélgica, Reino Unido, Países Baixos e Suíça. A organização ambientalista Greenpeace fez uma investigação sobre o assunto em 1982, a qual originou tal polémica que os lançamentos de resíduos naquela Fossa deixaram de se verificar.
Entretanto, foi publicado um mapa que assinala 12 locais onde foram lançados resíduos radioactivos.
A Praza.gal realizou uma investigação em 2017 junto de uma dezena de organismos internacionais e espanhóis, concluindo que nem as autoridades espanholas nem a Comissão Europeia dedicavam qualquer atenção ao problema e que as últimas informações eram de 1990 e 2003.
Após ser noticiada a recente Missão, uma deputada galega ao Parlamento Europeu advertiu a Comissão Europeia de que esta não estava a fazer o seu trabalho de monitorização.
Dias depois, já eram 1.900 os bidões detectados.
Convém relembrar que o Reino Unido lançou durante muitos anos resíduos radioactivos no Canhão da Nazaré, o que deu origem, anos mais tarde, a uma iniciativa de protesto na sua Embaixada em Portugal por parte de ambientalistas portugueses, em que se destacou António Eloy, o qual, dessa vez, não chegou a ser preso. Também no mar dos Açores foi denunciada pelo Capitão Costeau a presença de resíduos deste tipo em contentores que já estavam abertos.
Quanto a estes locais em Portugal, não se tem conhecimento de que o Laboratório de Protecção e Segurança Nuclear, integrado no IST, esteja a monitorizá-los. Não será necessário algum deputado ou meio de comunicação social perguntar ao Governo?
Também convém não esquecer a existência de milhões de toneladas de águas radioctivas resultantes do grave acidente de Fukushima, parte das quais têm vindo a ser lançadas no mar, as numerosas descargas em centrais nucleares de todo o mundo no mar e nos rios, devido a “incidentes”, conduzindo à perigosa contaminação radioctiva das águas. E aos muitos casos que foram camuflados por empresas e autoridades.
Nota complementar que foi enviada por António Eloy:
Não estou certo, mas julgo que foi em 1982 que a sra Tatcher tentava fazer mais um lançamento de bidões radioactivos na intersecção, na Fossa Atlântica, entre os Açores e a Galiza. Nesse ano estive (tínhamos o estatuto de observadores) e com intervenção na delegação dos Friends Of the Earth International na reunião London Dumping Convention que proibiu a partir do ano seguinte os despejos. A Greenpeace também se mobilizou e os estivadores ingleses recusaram embarcar nesse ano os bidões, e o que era para ser o último ano já não o foi. Entretanto em Espanha julgo que se tinha incendiado o consulado inglês em Vigo e nós (Amigos da Terra, eu o Cândido Franco, a Gertrudes Silva, o Jorge Leandro, e mais 3 ou 4) entrámos na Embaixada inglesa com um balde de lixo e estivemos cerca de 15 minutos à conversa com o próprio embaixador, que amavelmente (julgo que seria trabalhista) nos indicou que a polícia estaria a chegar. Despedimo-nos, saímos, mesmo na hora, e falámos para os jornais. Isto foi pouco antes da acção acima mencionada, dos estivadores.
Sobre o Cousteau julgo que as filmagens dele dos barris em destroços é da mesma altura. Estes os factos em que intervimos, mais alguns artigos nos jornais e as conversas referidas.