Músicas das linhas de atendimento são as mais ouvidas a nível nacional e ler contratos antes de assinar é útil para sabermos que nunca terem
Musicómano Serafim das Neves
Musicómano Serafim das Neves
Não é por falta de informação que me acontecem coisas desagradáveis. Posso reclamar, estrebuchar, mas a culpa é sempre minha, na maior parte das vezes. Quem me manda ser distraído?! Quem me manda ser cabeça no ar?!
Os exemplos são bastos e elucidativos. E abrangem tudo ou quase tudo. A começar, pelas companhias aéreas, por exemplo, agora que está de volta o tango da nacionalização da TAP e o fado das férias em destinos exóticos, como as praias do sul de Espanha.
Ainda não acabei de receber o meu cartão de embarque, onde diz que tenho direito a transportar uma mini-maleta com oito quilitos de peso, na cabine, e logo recebo a informação que o avião - que eles ainda não sabem qual é, e que só parte no dia seguinte - já está cheio, e que é melhor despachar imediatamente a pasta de dentes, escova, bronzeador, fato de banho e cuecas como bagagem de porão.
E não há nada a fazer. A transportadora tem esse direito soberano. Está na Lei e nos regulamentos. É uma espécie de direito de pernada, moderno. Aquele direito que, na Idade Média, permitia ao nobre, digamos assim, dormir a primeira noite com qualquer noiva que vivesse nas suas terras.
A minha operadora de telecomunicações vende-me um serviço com velocidade de internet supersónica e com dados ilimitados. Mas está no contrato, que a velocidade pode ser de caracol e que os dados podem ser reduzidos a zero ou perto disso, em casos excepcionais. E quem decide quais os casos excepcionais é quem fornece o serviço. E também está no contrato que os canais de televisão podem ser substituídos por outros, a qualquer momento.
Eu nunca reclamo quando fico sem internet e se reclamo é para me distrair ao telefone, a carregar nas teclas que me vão sendo indicadas pela assistente virtual e a ouvir a mesma música, vezes sem fim. Os artistas que passam nas linhas telefónicas, são bem mais famosos que os que passam na rádio ou nos canais de música da televisão.
Se queres que te diga, a entidade encarregue do cumprimento da lei da música portuguesa, que obriga à transmissão de uma percentagem de música nacional, devia abranger também as centrais telefónicas.
Por falar em linhas de atendimento, aproveito para te dizer que, se não há quem nos atenda no serviços públicos, nos hospitais privados, quando o sistema automático nos atende é a partir de uma central telefónica que, por enquanto, ainda está em Lisboa, mas que em breve poderá vir a estar na Tailândia, na Índia, ou mesmo no Nepal, dependendo do que fique mais barato.
A minha prestação do empréstimo da casa está sempre a baixar, e isso é uma boa notícia, como fazem questão de me lembrar, políticos, economistas e comentadores. Mas como estou a envelhecer, os seguros obrigatórios não param de aumentar e acho que qualquer dia vou pagar mais de seguros do que do empréstimo. E por aqui se vê que as políticas económicas são equilibradas, uma vez que os donos do meu banco são os donos da minha seguradora. Cada vez percebo mais de economia, Serafim.
Um abraço financeiro
Manuel Serra d’Aire