Opinião | 14-07-2025 08:39

“Dona Maria” ou a “minha mulher é fascista” (II)

“Dona Maria” ou a “minha mulher é fascista” (II)

Em Coimbra, das últimas vezes que lá fui, outro mural que não consigo reproduzir em fotografia dizia: “Não posso ser a mulher da tua vida. Sou a mulher da minha vida!” que máxima tão simples para evitar tanto fascismo entendido como lógica de manutenção do poder. Que máxima tão simples para evitar tantas violações e homicídios.

[…] Stay cool, learn to swim Your skin will thank you Your mind will thank you And if there’s blood in the water sharks will thank you […] Time heals all wounds and makes new ones but a hot shower will cure 99% of bad vibes, trust me You should be nice to yourself You should be nice to people except for nazis. No one should never be nice to Nazis. […] All the paper straws in the world won't save a single polar bear but making Amazon pay their proper taxes could […].

Joshua Idehen, “Learn To Swim”

[...] Mantém-te fresco, aprende a nadar A tua pele vai agradecer-te A tua mente vai agradecer-te E se houver sangue na água os tubarões vão agradecer-te [...] O tempo cura todas as feridas e faz novas, mas um duche quente cura 99% das más vibrações, confia em mim. Devias ser simpático para ti próprio Devias ser simpático para as pessoas, exceto para os nazis. Ninguém nunca deve ser simpático para os nazis. [...] Todas as palhinhas de papel do mundo não vão salvar um único urso polar, mas obrigar a Amazon a pagar os seus devidos impostos pode […] [Tradução automática com /www.deepl.com […]


Em Portugal também já se cantou e gritou em auditório cheios, em comícios, nas ruas “aprende a nadar companheiro […] que a liberdade está a passar por aqui”. Foram tempos de lutas honestas, não apenas contra os nazis que nos queriam aniquilar, mas contra “os Musks e seus pais”. Não por serem ricos, inventores ou inventados, não por terem ouro ou diamantes, não por serem donos da mina, mas apenas porque de tudo o que não querem pagar o seu quinhão para que outros possam ter um pouco mais.

Já diz o catecismo da Igreja Católica que não pagar salário é pecado mortal. Ainda há pouco tempo o bilionário mais bilionário dos bilionárioss sugeria um horário de 120 horas semanais sem salário para o trabalho intelectual, meio a sério, meio a brincar, como todo o bom neofascista ou no caso de Elon aparentemente neonazi. Não sabemos se esse senhor que pode implodir certas economias, mas na realidade é em parte “subsídio dependente”, realmente quer extinguir parte da população. Se está apenas zangado com o mundo por não aceitar que os filhos(as) tem vida própria, ou se está deprimido. O que sabemos é que tudo faz não é altruísta, apenas tem os mesmos objetivos antigos: reproduzir capital ao máximo, diminuir custos ao mínimo, para produzir mais capital, gerar monopólios para extinguir a concorrência e reproduzir mais capital. “O capitalismo é antítese da economia de mercado”, Braudel dix it. Tudo o resto são pormenores no sistema de exploração mundial que dura desde “que os burgueses conquistaram o mundo”, na célebre expressão de Charles Morazé.

Um emérito professor de História de Arte de Coimbra aconselhou em 2004 a queimar carros contra a destruição da “universidade” resultante “protocolo de Bolonha” e das ideias avançadas da UE. Mau-grado algumas noites de boémia, a minha antiga costela liberal não viu no vandalismo a resposta ao problema. Estaria errado? O professor não esteve nas barricadas do “proibido proibir” de Maio de 1968, porque a salto só chegou a Paris em 1969. Continuo a achar que queimar o carro do zé da esquina, que se calhar nem tem seguro contra revoluções, não faz mossa na conta bancária dos que nos querem aniquilar, sejam os nazis ou os bilionários. Pode fazer manchetes, como canta Joshua Idehen “não salva um único urso polar”.

Tal como eu na crónica passada, soubemos recentemente por escutas que nada tem a ver com nada, que também Mário Soares, Almeida Santos, e José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa se divertiam a comentar a vida sexual de António Oliveira Salazar. Sinceramente, não temos nada a ver com isso. Muito provavelmente era má, tinha pouco tempo para sexo. Se tivesse sido boa, saberíamos mais sobre ela. Não acredito muito no afair com a governanta, mas ter afilhadas em São Bento e ter protegido os delfins durante o “Ballet Rose” faz do ditador de Santa Comba um grande candidato à castração química, ao que parece ocultada dos programas populistas. É legal na Ucrânia. Defender a castração química para pedófilos não nos torna fascistas, apenas humanos perante a dor insuportável das vítimas. Quer regular a vida sexual dos adultos livres torna-nos qualquer coisa muito perto do “fascismo eterno”.

Em Coimbra, das últimas vezes que lá fui, outro mural que não consigo reproduzir em fotografia dizia: “Não posso ser a mulher da tua vida. Sou a mulher da minha vida!” que máxima tão simples para evitar tanto fascismo entendido como lógica de manutenção do poder. Que máxima tão simples para evitar tantas violações e homicídios.

A manutenção do poder pelo poder tende em qualquer tipo de estado totalitário, conservador de direita, de inspiração comunista, islâmica, budista ou cristã, a cercear os direitos da mulher sobre o seu corpo. Começa por aí talvez pelo milenar machismo estrutural, mas sobretudo porque elas são mais. Se o estado, que na realidade é um monstro, consegue ditar o que a maioria da população pode ou não pode fazer com o seu próprio corpo, o caminho para o controlo absoluto das mentes está aberto. Se o instrumento de poder é a cruz de cristo ou um pedaço de tecido — tal qual na eterna acumulação de capital que visa criar monopólios com mais poder que os estados desde 18 e tal e aniquilar as PME — é irrelevante.

Realmente triste é ouvir o silêncio no deserto da dor. Quantas manifestações houve recentemente pelas mulheres mortas de Quito a Cabul em prol da manutenção deste sistema arcaico de vida que deveríamos abolir? Realmente triste: os que nos “ensinavam a nadar” defendem princípios válidos e justos, sacrificando as irmãs e os irmãos que ontem e hoje, entre Lisboa e Pequim, continuam a arder em tantos auto-de-fé revestidos com outras vestes e sem deputados do Santo Ofício, apenas Guardas da Revolução.

“A minha mulher não é fascista”, primeiro porque a única mulher que posso ter sou eu. Segundo, porque, provavelmente, a tal Dona Maria que inspira as crónicas nunca pensou muito nisso “empregado no governo de casa” no dizer das fontes, tinha sempre quem pensasse por ela: desde o chefe ao coro dos progressistas. Além disso, depois de quatro horas a lavar a roupa, aspirar a casa e lavar o chão e a retrete, apetece-me tanto pensar como “tomar banho no Tejo”. Aprendamos a nadar. Fiat Lux.

Referências:

Joshua Idehen, “Learn To Swim” disponível em linha em: https://www.youtube.com/watch?v=eNmxddPMU8Y&list=RDeNmxddPMU8Y&start_radio=1 [consultado a 11/Jul/2025].

BRAUDEL, Fernando, (1985) — A dinâmica do capitalismo, trad. Carlos da Veiga Ferreira. Lisboa : Teorema.

MORAZÉ, Charles, (1965) — Os burgueses à conquista do mundo: 1780-1895, cartografia de Jacques Bertin, trad. Maria Antonieta Magalhães Godinho. Lisboa: Cosmos.


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