Numa guerra os primeiros a morrer são as crianças

É imperdoável que os líderes dos organismos mundiais, a começar pela ONU, dirigida pelo português António Guterres, discursam nos dias de hoje a clamarem que “a fome jamais deve ser usada como arma de guerra”, quando todos os dias, e de há muitos séculos, essa é a arma principal dos facínoras. Uma vergonha que nos envergonha.
Julho e Agosto são meses de menos trabalho em quase todas as profissões: a economia do país cresce significativamente em muitas áreas mas na maioria dos casos quase que anda a passo de caracol. Eu não me queixo: faça sol ou faça chuva tenho sempre trabalho, e quando não tenho invento, que é aquilo onde, para minha desgraça, acho que ainda sou o melhor de mim no meio de tanta gente que, certamente, já me deve olhar ou começar a ver como descartável.
Hoje, segunda-feira, dia 28 de Julho, por volta das 17h00, o correio da redacção tem três e-mails de leitores a pedirem ajuda para denunciarmos roubos e má administração de alguns responsáveis por gabinetes de trabalho de autarquias, nomeadamente com assuntos ligados às obras e más condições de habitabilidade. É raro o dia que os leitores de O MIRANTE não contribuem para a agenda dos jornalistas, o que para nós é uma honra, um sinal de que embora não tenhamos sempre razão, temos um trabalho que nos obriga a nunca baixarmos os braços. Há outras mensagens no correio de hoje menos importantes, aparentemente, de leitores a protestarem por não terem recebido a edição impressa na sexta-feira, ameaçando desistir da assinatura. Há dias em que o telefone toca várias vezes só para explicarmos que a culpa é dos CTT que recebem os valores das facturas, a tempo e horas, todos os meses, e que não retribuem prestando o serviço com a qualidade que deviam. Nem por isso deixamos de dialogar com a administração dos CTT, também porque devemos ser dos maiores clientes do país. Curiosamente, são muito mais as reclamações da área do Vale do Tejo, a área com mais população, do que da Lezíria e Médio Tejo, mas ninguém tem explicações para dar, e nós limitamo-nos a confiar na lei do mercado; e a pedir encarecidamente a compreensão dos assinantes, já que as nossas notícias e reportagens são únicas e o jornal tem, no mínimo, uma vida que, em muitos casos, dura muito para além dos sete dias da semana.
As crianças são as primeiras vítimas
O que se passa no mundo, na Ucrânia e na Palestina, e em muitos países africanos de que nunca ouvimos falar, e que parece que não existem, é o maior absurdo dos dias que vivemos. Matar crianças à fome é a arma mais poderosa usada pelos ditadores políticos. Sem querer desviar as atenções das imagens que chegam de Gaza, com as crianças a morrerem à fome devido à guerra, remeto para um filme com o título de A Chorona, que pode ser visto na plataforma Filmin, um drama político que tem como pano de fundo o genocídio da população indígena maia, em 1982, sob o comando do ditador guatemalteco Efraín Ríos Montt. O director do filme, o guatemalteco Jayro Bustamante, mostra como se ataca um povo e se acaba com ele pela raiz, ou seja, antes de matar os pais matam-se primeiro os seus filhos, porque são as crianças, com a morte dos adultos, que ficam para darem testemunho. A guerra é cruel em todos os aspectos, mas fazer a guerra começando por matar primeiro as crianças, parece ser uma táctica tão antiga como a existência da humanidade. Mesmo assim os nossos políticos discursam como se fossem padres, e embora não usem armas com balas que matam, usam as palavras e os argumentos falsos que vão matando lentamente, como é o caso das crianças em Gaza. É imperdoável que os líderes dos organismos mundiais, a começar pela ONU, dirigida pelo português António Guterres, discursem nos dias de hoje a clamarem que “a fome jamais deve ser usada como arma de guerra”, quando todos os dias, e de há muitos séculos, essa é a arma principal dos facínoras. Uma vergonha que nos envergonha. JAE.