Opinião | 31-07-2025 09:07

União-Lusitano: dois Grandes encontram-se em Santarém

POR CARLOS ALBERTO CUPETO / Professor da Universidade de Évora e membro do Conselho Coordenador da SEDES de Évora

O União está nesta Liga 3 como símbolo de uma cidade que sempre teve no futebol um espaço de afirmação coletiva. Clube com história recente, em crescimento, que tem sabido construir um projeto sólido, com forte ligação à formação, à terra e à sua comunidade. O Lusitano, por sua vez, traz consigo a nobreza de um passado centenário e o peso simbólico de ser um dos emblemas fundadores do futebol português no interior do país.

Com o Tejo como testemunha, os dois grandes do grande rio, o Lusitano e o União, vão-se encontrar, no dia 9 de Agosto em Santarém na 1ª Jornada da Liga 3, Série B. O território do Tejo, o além e o riba (margem) encontra-se, como sempre aconteceu ao longo da história, quando a distância não era displicente, desta vez numa partida de futebol.

É verdade, desde há milhares de anos que é assim no Tejo, o mais bonito rio do mundo, porque é o nosso rio, mas também porque tem tudo, tem vida e tem alma, que contagia e aproxima a quem ele toca. Como todos os rios maturos, a diversidade torna-o precioso. Uma bênção às terras que ele atravessa, desde a Beira, com uma beleza natural ímpar, muito para além singularidade das Portas do Ródão, o estatuto de Parque Natural, até a um dos maiores estuários da Europa, em Lisboa. Um ponto singular a nível mundial em matéria de biodiversidade, designadamente no que respeita à avifauna. Efetivamente, contrariamente ao que possa parecer, o Tejo, como todos os rios, não divide, antes une. Une Santarém a Almeirim/Alpiarça, Abrantes a Rossio ao Sul do Tejo, Rio de Moinhos a Tramagal, Vila Nova da Barquinha/Tancos a Arrepiado, e une o Ribatejo ao Alentejo, etc. Também Lisboa tem de inverter o habitual paradigma da separação da margem sul pelo Tejo. É o contrário, as duas margens estão unidas pelo Tejo. Este pensamento, ao contrário, é a inversão do paradigma e é um enorme avanço que tudo muda. Curiosamente, a outra escala, assumimos que o Tejo une os dois países ibéricos; aqui, esta é a abordagem clássica e aceite. Assim, o Tejo é um fator de união e de desenvolvimento, uma bênção que dá valor e riqueza às terras que banha e que une.

E o futebol, a razão de ser deste escrito?

O União está nesta Liga 3 como símbolo de uma cidade que sempre teve no futebol um espaço de afirmação coletiva. Clube com história recente, em crescimento, que tem sabido construir um projeto sólido, com forte ligação à formação, à terra e à sua comunidade. O Lusitano, por sua vez, traz consigo a nobreza de um passado centenário e o peso simbólico de ser um dos emblemas fundadores do futebol português no interior do país. Um clube que carrega, no nome e no verde da camisola, a alma de Évora e do Alentejo. Dois clubes com raízes profundas, representando territórios que se querem vivos, inteiros e com futuro. Na relva, o reencontro de duas cores e duas histórias. O União, afirmativo em casa, com um grupo jovem e ambicioso. O Lusitano, com a garra tranquila de quem conhece bem os caminhos da superação. Será, espera-se, um jogo bem disputado, sem cedências, mas com respeito mútuo, como nos grandes encontros entre vizinhos que se estimam. Que seja, acima de tudo, um hino à vida local, ao futebol que nasce do chão, do lugar e da memória coletiva. Um jogo com sabor a futuro e raízes no passado, à altura do Tejo que os une.

E no fim, na fase de subida, que os dois clubes se voltem a encontrar.

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