Opinião | 04-09-2025 13:03

Luís Fernando Veríssimo: o cronista mais popular

Luís Fernando Veríssimo: o cronista mais popular
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Romancista cheio de requintes, ensaista, músico, foi cronista e chargista em tempo integral, e em não poucas ocasiões, por sua atuação em jornais e revistas, pode ser lido, pela qualidade e tempo de serviço, ombro a ombro com o maior de todos os nossos cronistas – Rubem Braga. Como Rubem, vai demorar um pouco para ser de fato reconhecido, porque a crônica, apesar de tudo, ainda é desprezada entre os gêneros supostamente mais nobres. Nesse ringue, crônica e ensaio sempre levaram a pior. Mas aí estão as obras de Rubem e Luís Fernando para bagunçar esses paraísos artificiais da literatura.

Em 1984, em Curitiba, a Biblioteca Pública do Paraná promovia “Um escritor na biblioteca”, evento que aproximava escritores e leitores. O cronista falava quase nada, às vezes uns balbucios ininteligíveis, mas lá estava ele, naquele 9 de julho, diante da plateia. No final do evento, entreguei-lhe um exemplar de “O analista de Bagé” (L&PM, 1981) para autógrafo, sob protesto de outro escritor, Tabajara Ruas, que apontava nervoso o próprio relógio de pulso – precisavam chegar logo ao aeroporto sob pena do cronista perder o voo para Porto Alegre. Você se recorda, Taba, se conseguiram? Luís Fernando era já um cronista popularíssimo, e o público enfurecido não dispensava proximidade e autógrafo.

Luís Fernando Veríssimo, irmão de Clarissa, filho de Mafalda e Erico. O primeiro livro que publicou, “O popular” (José Olympio, 1973), foi também o primeiro que li dele, no início dos anos 80, por indicação de meu tio Pedro Olinto, veterano leitor dos Veríssimos, pai e filho.

A segunda vez que o encontrei foi por volta de 1997, Rio de Janeiro, na extinta Galeria Bonino, em Copacabana, exposição de pinturas de Ivan Pinheiro Machado, seu editor. Também lá estavam Millôr e Fausto Wolff, entre outros editados da L&PM. Daquele grupo, quem mais vendia livros era já o Veríssimo II, filho de Erico. Lá pelo meio dos 70, não se imaginava que aquele sujeito tímido e discreto, que começou a escrever aos 30 anos, se tornaria tão famoso e, como escritor, sem paralelo em sua geração.

Romancista cheio de requintes, ensaista, músico, foi cronista e chargista em tempo integral, e em não poucas ocasiões, por sua atuação em jornais e revistas, pode ser lido, pela qualidade e tempo de serviço, ombro a ombro com o maior de todos os nossos cronistas – Rubem Braga. Como Rubem, vai demorar um pouco para ser de fato reconhecido, porque a crônica, apesar de tudo, ainda é desprezada entre os gêneros supostamente mais nobres. Nesse ringue, crônica e ensaio sempre levaram a pior. Mas aí estão as obras de Rubem e Luís Fernando para bagunçar esses paraísos artificiais da literatura.

Quando editei de Moacyr Scliar “Do jeito que nós vivemos” (Editora Leitura, 2007), Scliar me sugeriu Luís Fernando para escrever o texto das orelhas. O prazo era curto e ele aceitou sem reclamação. Entregou-me o texto uma semana antes do prazo final e recusou pagamento. Num passado já um pouco mais remoto, participei de um júri literário em que ele ficou de fora das listas dos possíveis premiados, menos da minha lista. Entre caras e bocas, muxoxos e piadas, todos reunidos na mesa do júri final, acabaram se convencendo de que era preciso ao menos arranjar uma menção especial para aquele que, por covardia, não queriam premiar. Escritores que vendem muito sempre sofreram esse preconceito, em geral vindo de quem continua a enxergar a crônica como gênero menor. Menções especiais de júri... Se Veríssimo nunca alcançou o prêmio Machado de Assis, da ABL, e o Camões, maior da língua portuguesa, foi por estas e outras circunstâncias, e agora é tarde. Mas não para saber que é o público quem de fato concede os melhores prêmios, sobretudo para escritores veríssimos...

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