Opinião | 22-09-2025 16:47

Para quando uma regionalização cultural?

Para quando uma regionalização cultural?
Miguel Montez Leal

O antigo Ribatejo não se resume apenas à trilogia panfletária de fado marialva, folclore e touradas, possui uma riqueza muito mais vasta, riqueza ainda por dar a conhecer e lapidar. Para que esta mudança aconteça, estes pequenos museus terão de ter orçamentos maiores, profissionais à sua frente e os voluntários de que tanto tenho vindo a falar, que trabalham, quase sempre, a custo zero, por amor à camisola e à arte.

No norte do distrito de Santarém encontramos Minde, vila que se encontra na extensão geográfica e montanhosa do Montejunto-Serra-de-Aire eCandeeiros. Remota para muitos ribatejanos e para os portugueses oriundos de outros distritos, Minde fica muito próximo de Porto-de-Mós, Fátima e Leiria e é circunvizinha de Alcanena.

Naquela pequena vila de cerca de 3000 habitantes, destacam-se, entre a sua identidade histórico-cultural os objectos e tradições da antiga cultura local, de gente rija e resistente, desafiando as intempéries, o frio que se entranha nos ossos e a sua pobreza ancestral. O minderico é também um dialecto muito interessante, apenas entendido por alguns locais, um linguajar de segredo e de união numa terra fortemente unida e de base comunitária.

A casa de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) é o ex-libris da localidade, casa raul-linesca, à antiga portuguesa, que alberga grande parte do espólio deste grande artista e dos seus filhos, todos também artistas, em aguarelas que fazem parte do imaginário nacional em todos aqueles que foram lendo os diversos livros de história ao longo do século XX, ilustrados por este artista de origem minderica.

Quantas vezes penso na riqueza histórico-cultural do distrito de Santarém, de como esta se encontra tão subaproveitada, de como não existe um mapeamento, uma sinalética, percursos que todos entendam e a sua necessária divulgação.

Nos finais do século XX fez-se um referendo à regionalização e nós portugueses, acantonados em províncias que foram extintas formalmente em 1976, não entendemos a mensagem desta proposta ou talvez não a quiséssemos entender. Mais tarde, já neste nosso século, deram-se as fusões de freguesias, dado o envelhecimento e despovoamento acelerado deste nosso território, que possui, actualmente, menos de 500 mil habitantes.

José Malhoa (1855-1933) possuía também a sua casa, a Colmeia, em Figueiró dos Vinhos, muito próxima do norte do antigo Ribatejo e o poeta Ruy Belo (1933-1978) a sua casa nos arredores de Rio Maior, em S. João da Ribeira, e assim poderia continuar.

O antigo Ribatejo não se resume apenas à trilogia panfletária de fado marialva, folclore e touradas, possui uma riqueza muito mais vasta, riqueza ainda por dar a conhecer e lapidar, mas talvez para que esta mudança aconteça, estes pequenos museus terão de ter orçamentos maiores, profissionais à sua frente e os voluntários de que tanto tenho vindo a falar, que trabalham, quase sempre, a custo zero, por amor à camisola e à arte.

Todos nós gostamos do nosso torrão natal, ninguém gosta de ver a sua terra ser criticada, mas é necessário mais união e menos acantonamento, pequenez de raciocínio, de discernimento e menos rivalidades.

Portugal possui cerca de 11 milhões de habitantes residentes. Basta colocá-lo em escala. Inglaterra que é um país mais pequeno do que Portugal, só em Londres possui 20 milhões de habitantes, é uma cidade do mundo e cosmopolita, pelo menos, desde os anos 60. Porque será que num país que constitui, em população, metade da capital inglesa, estamos sempre tão divididos e nos perdemos com fronteiras mentais que fazem cada vez menos sentido num Mundo global?

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