Opinião | 01-10-2025 21:00

Afilhados por atacado, língua portuguesa só para imigrantes e as epifanias eleitorais junto à banca do peixe

Emails do outro mundo

Inexcedível Serafim das Neves

Inexcedível Serafim das Neves
Vi as primícias da campanha eleitoral para as autárquicas de 12 de Outubro, no mercado municipal, junto às bancas das hortaliças. Nabiças viçosas, cabeças nabo, abóboras, tomates, belas cenouras e brócolos, no meio de bandeiras a ondular, que me despentearam as farripas da franja.
Estenderam-se um papel que imaginei ser o Borda d’Água ou o Semeador. Era sobre sementeiras e colheitas, mas de votos, não de couves. E lá foram eles, sorridentes, a darem sacos para as compras a quem parava de comprar, para os ir cumprimentar.
A fé dos candidatos, no poder persuasivo dos calendários, esferográficas e outros brindes, é comovente. Emociono-me sempre. Só não choramingo porque não quero parecer mariquinhas, neste tempo de machos Alfa.
Confesso que sempre tive o secreto desejo de ter uma epifania política junto à banca do peixe, que me resolvesse, num lampejo, as dúvidas que sempre sinto, quando entro na cabina com o boletim de voto nas unhas.
Uma revelação, que me fizesse perceber em quem votar, após um simples aspirar do odor a carapau, sardinha ou cavala. Uma aleluia eleitoral, como devem ter os suecos quando, antes de irem votar, abrem embalagens de Surströmming, aquele arenque fermentado em salmoura que só pode ser consumido ao ar livre e com precauções especiais, devido a um cheirete de alto lá com ele. Aquilo rebenta-lhes com o olfacto mas dá-lhes pontaria afinada, para acertarem sem falhas, no quadradinho do partido preferido.
No dia anterior ao da campanha eleitoral, fui ao centro de saúde e, no tempo de espera, fui forçado a ver televisão porque nos centros de saúde, tal como nos cafés e restaurantes, tem que haver sempre uma televisão ligada. Durante o tempo de espera reparei que, era tudo ou quase tudo em inglês. Principalmente nos longos minutos da publicidade. Até uma campanha de descontos num qualquer super-mercado se chamava “Back to School” ou coisa parecida. Todos os produtos anunciados tinham nomes em inglês e cada minuto de propaganda tinha mais palavras em inglês do que o mesmo anúncio em Inglaterra.
Há alguns políticos que querem que os imigrantes sejam obrigados a aprender português e, lembro-me vagamente, que na lei sobre renovação de residência, o conhecimento da língua permitia a quem já estivesse em Portugal há mais tempo, obtê-la por cinco anos e não pelos dois habituais. Será que, no futuro, só os estrangeiros é que vão falar português em Portugal?
Por causa deste assunto da imigração, que tanto entusiasma alguns partidos políticos, recordo o recentemente falecido, Sérgio Carrinho, ex-presidente da câmara municipal da Chamusca durante mais de trinta anos, que um dia foi retido num aeroporto alemão durante várias horas, por ter sido confundido com um terrorista árabe. E as percepções ainda nem estavam na moda!
E recordo-o também porque, quando era criança e era acólito do Padre Diogo, ele o mobilizou para ser padrinho de mais de uma dezena e meia de crianças, que os pais tinham levado para ser baptizadas, mas sem padrinho.
Um abraço português
Manuel Serra d’Aire

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