A Rota de Santiago no seu percurso ribatejano

O ser humano não vive sem rituais, sem celebrações, no ciclo que atravessa as nossas vidas. Na Rota de Santiago a busca espiritual é a sua essência, mas algumas amizades que podem ficar para a Vida, também. São recordações que ficam, que guardamos, que podemos ou não cultivar e alimentar, que nos momentos de alegria ou de melancolia nos reconfortam.
Das terras da Golegã, antiga Venda da Galega, até Benavente, a rota de Santiago constitui neste pedaço de território o seu percurso ribatejano. A nível europeu esta rota inclui, em primeiro lugar, o caminho espanhol, o português e o francês. Em torno destes três países latinos as rotas há muito que foram redesenhadas, seguindo os antigos percursos medievais.
Em Portugal, equipas compostas por técnicos de variadíssimas áreas e por conhecidos historiadores e investigadores da nossa praça, entre muitos outros, elaboraram e dinamizaram este roteiro que se encontra em processo de florescimento. Está feita e colocada a sinalética, estão desenhados os roteiros, estão apontadas as sugestões de visita, os trilhos e os alojamentos actuais que a pontuam.
Nos cinco anos que vivi em Madrid e em que era bastante jovem, convivi com espanhóis de diversas latitudes peninsulares e de variadas autonomias. Muitos deles já tinham feito o caminho espanhol e me indicaram que a Rota de Santiago era uma experiência muito interessante. Um jovem casal galego contava-me que os espanhóis faziam este percurso por diversos motivos: uns por profunda crença em Santiago; outros tantos por um caminho pessoal de introspeccão e de busca espiritual e muitos outros para conhecerem de perto paisagens deslumbrantes, fazerem amizades e irem conhecendo a rica e muito variada gastronomia de Espanha.
A cruz de Santiago tem origens medievais, possui uma semântica com variados significados e o peregrino com o seu traje de chapeirão e capa, o seu bordão e a vieira, constituem a imagem de marca de uma vincada identidade cultural. Quando estes viajantes alcançam Santiago de Compostela chegam quase sempre esgotados, sobretudo os que percorrem grandes distâncias a pé. Quando entram na catedral, assistem às cerimónias religiosas e observam o botafumeiro de grandes proporções sentem-se purificados e consciencializam que valeu a pena participar nesta experiência única.
Os “freires de Santiago” renasceram de outra forma e esta rota, também turística, necessita de uma maior divulgação. Será uma forma de desenvolver e dinamizar os nossos territórios. Criam-se albergarias, alojamentos locais, novos restaurantes, projecta-se e elabora-se um merchandising, e o passaporte associado a este caminho vai vendo ser acrescentado os seus carimbos.
O ser humano não vive sem rituais, sem celebrações, no ciclo que atravessa as nossas vidas. Na Rota de Santiago a busca espiritual é a sua essência, mas algumas amizades que podem ficar para a Vida, também. São recordações que ficam, que guardamos, que podemos ou não cultivar e alimentar, que nos momentos de alegria ou de melancolia nos reconfortam.
Não interessa nos tempos actuais alimentar a memória da Reconquista peninsular, que é muito mais complexa do que se quis veicular durante anos e que muitas vezes nos foi ensinada numa história simplista e quase da carochinha.
O símbolo da cruz espatária de Santiago (uma cruz vermelha composta por dois segmentos laterais em flor de lis e que simbolizam uma espada e as vieiras que são o principal símbolo dos peregrinos jacobeus) é agora mais visto como um símbolo de união e de comunhão. Não estamos na Idade Média, estamos a finalizar o primeiro quartel do século XXI.
Mas creio que é necessário potencializar todo este património histórico-cultural de forma a enriquecer as nossas vidas e as economias locais e regionais.