Santarém 12 de Outubro de 2025

É tão pobre o debate que, a título de exemplo, ninguém abordou a necessidade de se terminar a ligação da A13 à A1 – pouco mais de 1000 m -, essa obra sim essencial para a qualidade de vida dos escalabitanos. Libertaria a denominada “Rua O” e potenciaria um novo enquadramento e planeamento urbanístico de toda uma zona de Santarém.
Nestas eleições para o Município de Santarém, os diferentes candidatos não conseguiram apresentar uma ideia para o Concelho que conseguisse rasgar com o banal quotidiano que nos identifica há mais de 100 anos.
Santarém cristalizou no tempo, agarrada a uma ideia de país e de região que já se esfumou na história e não consegue internalizar um sobressalto colectivo que a coloque na vanguarda do desenvolvimento nacional.
Na realidade, até essa definição de desenvolvimento nacional é pobre e limitada quando comparada com a qualidade de vida média da Europa onde nos inserimos. Logo, se a comparação interna é sofrível, imagine-se a comparação, por exemplo, com qualquer pequena cidade espanhola.
A prosperidade de Santarém não nascerá de cerimónias, de slogans ou de memórias — nascerá antes do investimento produtivo. Só as empresas que criam e exportam bens transacionáveis podem colocar a cidade e o Concelho num novo patamar de prosperidade económica.
Mas há um facto incontornável que continua a ser varrido para debaixo do tapete político: Santarém não tem áreas disponíveis para a instalação de indústrias. É uma carência estrutural, um bloqueio silencioso que trava o progresso e que não entra no debate público. A sua resolução é o único caminho realista para que Santarém possa competir e gerar riqueza perdurável.
Caso contrário, continuaremos presos ao passado, a viver dos méritos dos nossos antepassados, a celebrar datas de antanho e a posar em bicos dos pés nas fotografias.
Venderam-nos velhas ideias de rotundas, de um novo hospital e de um estádio para futebol e a população incha de satisfação. Tudo muito pobrezinho e pequenino.
PSD e PS cederam aos caprichos das gentes da bola e estão fascinados com um complexo futebolístico onde se vão enterrar milhões dos nossos impostos. Porém, se o caro concidadão pretender ir dar um passeio com a família, ou dar apenas uma corridinha, não tem um simples parque onde possa usufruir de um final de tarde tranquilo. Vamos oferecer dos nossos bolsos ainda mais milhões a um desporto que já tem biliões e onde se pagam salários obscenos que nos deveriam envergonhar.
Imaginar um novo hospital é também mais um projecto megalómano, absurdo e típico dos políticos portugueses dos últimos anos. Se não lhes ocorre nenhum pensamento estratégico, apresente-se “obra” - seja lá o que isso for - e à custa de quem trabalha.
Temos um hospital que está longe da optimização de gestão de que necessita, que carece, urgentemente, de profissionais qualificados – estudem o rácio de médicos, farmacêuticos e enfermeiros que lá existe…- e que necessita sim de um investimento tecnológico e de requalificação de instalações. Mas tudo isso é infinitamente mais barato do que construir um novo elefante branco.
Não é necessário nenhum novo hospital. É sim necessário investir e optimizar o que já existe e antecipar, desde já, o que vai acontecer com a abertura do hospital da Luz. A retenção de médicos de qualidade só se consegue com o aumento daquilo com que se compram as batatas – retribuições – e não com novos hospitais.
É tão pobre o debate que, a título de exemplo, ninguém abordou a necessidade de se terminar a ligação da A13 à A1 – pouco mais de 1000 m -, essa obra sim essencial para a qualidade de vida dos escalabitanos. Libertaria a denominada “Rua O” e potenciaria um novo enquadramento e planeamento urbanístico de toda uma zona de Santarém.
Andamos entretidos com os nossos pés, enquanto Leirias, Aveiros, Viseus e outras urbes caminham na direcção do horizonte.
Pedro Pimenta Braz