Opinião | 16-10-2025 15:00

Um dia de eleições e muito território em Ourém

Um dia de eleições e muito território em Ourém

Uma visita a cinco freguesias do concelho de Ourém em dia de eleições locais foi o melhor pretexto para conhecer território que para mim ficava para lá do sol posto.

Portugal é um país com apenas três por cento de terra: o resto é mar. A comparação serve-me para falar do distrito de Santarém, do Ribatejo em particular, que é muito maior em território e beleza que o nosso tempo disponível para o percorremos e conhecermos como merece. No passado domingo fui para Ourém conversar com os líderes políticos de cinco freguesias que não tiveram concorrência nas urnas. Percorri muitos quilómetros como o leitor pode confirmar se ler o texto da página 24 desta edição. O que vi deixou-me satisfeito e orgulhoso. Em muitas dezenas de estradas, e talvez uma centena e meia de quilómetros, não vi publicidade selvagem em nenhuma esquina nem cartazes de propaganda política, que não fosse o mínimo dos mínimos, e as estradas estão todas bem conservadas, as valetas limpas e as ervas cortadas.
Percorri lugares onde sempre ouvi dizer que lá só morava o diabo, e é tudo mentira. O interior do concelho de Ourém é um território que fica a menos de 90 minutos de Lisboa. Há por lá a chamada “Cova do Lobo”, mas é apenas um lugar como muitos outros que existem do Minho ao Algarve. Há muitos anos que não via a extracção da resina dos pinheiros como acontece no interior do concelho de Ourém. E dizem os autarcas com quem falei que os fogos deram cabo de muita da economia da pequena floresta.
Todos os autarcas e população com quem falei confirmam que o concelho sofreu muito com a emigração, que não é fácil viver no interior, mas do mesmo mal já ouvi queixas em Coruche, em Rio Maior, em Aveiras de Cima, para não falar em Abrantes e Tomar, que, para quem mora no centro da região, parecem cidades que ficam no meio do caminho que fazemos para a piscina ou o ginásio (passe o exagero).
Benditas eleições que me fizeram adiar a leitura de Alexandra Alpha, de José Cardoso Pires, faltar ao encerramento da festa do cinema francês, em Lisboa, para o qual tinha convite, entre outros prazeres como ficar a gozar o tempo de ócio que não gozei quando tinha 30/40 anos e trabalhava de noite e de dia. Deviam realizar-se eleições locais no mínimo todos os anos para ouvir mais rádio e perceber que todas as estações estiveram hora e meia a encher chouriços com os jornalistas a repetirem, todos ao mesmo tempo, o que se ia dizendo nas televisões, que por sua vez também viviam todas de meia dúzia de sondagens feitas à boca das urnas numa pequena parte das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto.
Rádios e televisões em Portugal são a maior pobreza franciscana. Várias vezes ouvi a pergunta dos jornalistas para os comentadores de serviço, enquanto eram conhecidos apenas os resultados das pequenas freguesias: “acha mesmo que estas eleições podem ser uma grande surpresa?” para as respostas que eram sempre as mesmas, embora elaboradas de formas diferentes conforme a cultura geral do comentador. A certa altura cansei-me de mudar de estação para estação e apeteceu-me deitar o rádio do carro para um caixote do lixo da auto-estrada. Ainda parei e procurei perceber se era fácil arrancar o rádio do carro e deitá-lo fora. Quando abrandei, e vi que atrás de mim vinha um carro da polícia, é que percebi que resolvia o problema rodando um botão. E assim fiz. O rádio continua desligado até hoje e o meu carro continua valorizado para quem ainda acredita que as rádios ainda são uma escola de jornalistas.

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