Burka, ou a dignidade da mulher
A liberdade de cada um termina quando coloca em causa a liberdade do outro. Se existe alguma dimensão cultural ou religiosa que force uma mulher a ter de tapar o seu rosto, tal nunca poderá ser permitido num país onde a liberdade seja um valor.
Obedecendo uma vez mais ao politicamente correcto e a um esquerdismo dogmático que já há muito expirou, submersa num caldo cultural que lhe vai encarquilhando os sentidos, a esquerda portuguesa e europeia - a democrática e a outra…- vê desaparecer a sua capacidade crítica e analítica, insistindo em não querer perceber nada do mundo que a rodeia.
Entrincheirada em dogmas embotados, não consegue já vislumbrar o óbvio, levantando-se espontaneamente de punhos erguidos e de “soutiens” nas mãos, sempre que escuta típicas locuções que lhe inflamaram a alma em tempos de antanho.
A resposta paradoxal que deu à questão da Burka, criticando a sua proibição, é um exemplo acabado do caminho que vai trilhando e que lhe vai reduzindo os votos nas urnas: de vitória em vitória, até à derrota final.
Com excepção de questões do foro médico, sou totalmente contra uma mulher ter de cobrir integralmente o seu rosto, sejam quais forem os motivos evocados para que tal aconteça. Totalmente contra!
Não, não tem nada a ver com questões de segurança – essa será uma questão importante, claro, mas secundária.
A proibição da “Burka” prende-se simplesmente com a dignidade da mulher!
É inconcebível, que em pleno século XXI, um ser humano – uma mulher é um ser humano…-, tenha de tapar o seu rosto, como alguém foragido ou de nível inferior. A dignidade humana constitui um valor que tem todo o homem como homem – toda a mulher como mulher -, isto é, como ser racional e livre, enfim, como pessoa.
Não existe nenhum motivo religioso, cultural ou político, que justifique a menorização da mulher no espaço público. Nenhum! Nenhum! E obrigar as mulheres a esconderem-se atrás de um pano, tapando o seu rosto, é ofensivo e não deveria ser permitido em lugar nenhum do mundo.
Escutar PS, PCP e quejandos criticarem a nova lei evocando a liberdade religiosa, é um insulto à inteligência das pessoas. Não nos façam passar por parvos. Reiteradamente, a esquerda decrépita denunciou-se com mais uma resposta pavloviana, barricada nos amanhãs que cantam e num socialismo sem classes que já foi incinerado.
Para que não existam equívocos: as democracias ocidentais têm de defender a liberdade de culto e tal terá de ser um dos pilares da sua existência, mesmo que tal não seja recíproco noutras latitudes. A liberdade é o pilar axiomático da democracia e a tolerância uma das suas manifestações. Em Portugal, o islão terá de ser de livre culto e expressão. Porém, a adopção da Burka na cultura islâmica ocorreu apenas após a introdução do Islão na Pérsia. Não é um dogma islâmico.
A liberdade de cada um termina quando coloca em causa a liberdade do outro. Se existe alguma dimensão cultural ou religiosa que force uma mulher a ter de tapar o seu rosto, tal nunca poderá ser permitido num país onde a liberdade seja um valor. Nesse país livre, a liberdade traduz-se também em rostos limpos e cristalinos, reflexos da alma de cada um.
O rosto humano é um dos símbolos mais exuberantes da linguagem e do pensamento — pode representar a identidade, a verdade, a emoção, a moralidade, a vulnerabilidade ou até a própria alma, dependendo do contexto. O rosto é o que distingue uma pessoa da outra — é o sinal visível de quem somos. “Perder a face” significa perder a dignidade ou o respeito por si próprio, espelhando o rosto a identidade social ou a honra de alguém; ao invés, “mostrar a verdadeira face” significa revelar a verdadeira natureza ou as intenções de alguém.
Uma esquerda assim vai acabar por perder o respeito por si própria.
P.N.Pimenta Braz


