O fracassado regresso dos dinossauros, a chegada dos salvadores da pátria e a queda do muro no Couço
Sufragista Manuel Serra d’Aire
Sufragista Manuel Serra d’Aire
Diz a voz popular que não se deve voltar ao sítio onde se foi feliz, não vá apanhar-se alguma decepção. Mas a tentação pelo poder - que alguns aliam a ambições políticas e à convicção de que são homens providenciais de que a comunidade não merece ser privada - é maior do que a cautela e caldos de galinha que se devem ter em dose q.b. antes de certas decisões. Foi por isso que vimos antigos autarcas, despachados anteriormente pela lei de limitação de mandatos, voltarem à tona nestas autárquicas com candidaturas para tentar voltar à cadeira do poder. Aconteceu em Alpiarça e em Coruche, por exemplo, e os candidatos tiveram azar. Vão ter de esperar mais quatro anos sentados, neste caso nas cadeiras da oposição.
Mas se não se deve retornar aos lugares onde se foi feliz, menos ainda se deve insistir em regressar a lugares onde não se foi feliz. Aí já há um certo exercício desmedido de obstinação e até de masoquismo. O caso mais paradigmático é o do candidato do PS à Câmara de Sardoal, Pedro Duque, que pela terceira vez concorreu e pela terceira vez perdeu para o PSD. À terceira terá sido de vez ou ainda não ficou convencido?
Já o candidato do PS em Salvaterra de Magos, Francisco Madelino, voltou a ser candidato à câmara. Em 2001 cometeu o feito de perder para a candidatura do Bloco de Esquerda, que pela primeira vez conquistou um município no país. Agora, foi derrotado por uma candidata independente saída da guerra fratricida entre as hostes socialistas de Salvaterra de Magos. Mais uma vez Francisco Madelino fez história e se há alguém bem habilitado para falar sobre as consequências do empoderamento feminino na política autárquica é ele.
Nestas eleições, e em outras recentes, houve um partido que se propôs “salvar Portugal”. A maior parte dos portugueses, na maioria esmagadora dos concelhos, entendeu que não precisava de ser salva, pelo menos para já, e que Nossa Senhora de Fátima bastará para fazer face às aflições. Mas vamos ter o privilégio de ver ao vivo e a cores como é que isso se faz. O Entroncamento vai ser um dos laboratórios por onde vai começar o processo de salvação de Portugal e eu até já comprei as pipocas para assistir à redenção da cidade dos fenómenos. Por mim, se alguém me quiser salvar, que seja uma salva-vidas tipo Pamela Anderson nos seus anos dourados…
Os comunistas é que já não têm grandes aspirações a salvar ninguém, a não ser, eventualmente, a existência do partido. No todo nacional ainda se foi disfarçando o desaire autárquico, mas por terras ribatejanas não há como camuflar. Perderam a última câmara, em Benavente, perderam os vereadores em Coruche e até a icónica freguesia do Couço. Mesmo assim é mais expectável que Lenine se levante do mausoléu do que o PCP assuma a derrota com todas as letras, continuando de vitória em vitória até ao juízo final. Já o seu antigo parceiro de geringonça, Bloco de Esquerda, passou praticamente a ser mera poeira no nosso mapa autárquico. Paz à sua alma…
Saudações democráticas do
Serafim das Neves