Isto é gozar com quem trabalha em Santarém

Uma crónica a fazer-me caro quanto ao meu interesse pelo importante festival de gastronomia que decorre em Santarém e uma experiência única com a ida ao padel, à piscina e à feira num jardim de Telheiras.
À sexta-feira, principalmente à sexta-feira, o trânsito na estrada nacional dentro da vila da Chamusca e junto à ponte Joaquim Isidro dos Reis é de bradar aos céus. A meio da tarde de um destes dias fiz uma observação sobre o assunto no local a uma pessoa que conhece bem o problema, que vive diariamente, e não obtive qualquer reacção. Mais tarde é que se fez luz. O que é que eu queria como resposta? O mesmo de sempre? Que o meu interlocutor voltasse a bater no ceguinho? De tanto vivermos certas dificuldades, uma grande parte de nós arranja maneira de as ultrapassar para poder sobreviver e seguir em frente. É o que acontece na Chamusca. A fila de carros provocada pelos semáforos incomoda e prejudica, mas não é pior que uma pandemia.
Nenhum dos meus filhos se pode queixar de ter um pai que se recusava a dar-lhe horas de bicicleta, corrida, passeios pela charneca ou pelo Tejo, horas de leitura ou de brincadeira pura e simples. Tive sorte porque os dois primeiros bem cedo prescindiram do pai em favor dos amigos. Com o terceiro a ligação demorou mais tempo e ainda chegámos a disputar taco a taco jogos de mesa, corridas de bicicleta, subidas às árvores, entre outros desportos amadores.
No sábado passei o dia com uma neta de sete anos e consegui visitar uma feira, comprar uma dúzia de livros escolhidos a dedo, de joelhos no chão, ir à piscina com ela durante quase três horas, e ainda deu tempo para uma caminhada pela cidade para comprar lâminas, duplicar chaves, entre outros afazeres. Logo às 10 da manhã, no padel, que para mim é um jogo de meninos comparado com o ténis de mesa que pratico desde os meus 10 anos, meti-me com a mãe de um rapagão e percebi como é que hoje se vive nas cidades-dormitório. A minha neta fez-me duas perguntas durante a viagem de carro que não vou esquecer: “avô esta garrafa de água é de confiança, não tem nada lá dentro que me faça mal”. “Avô o seu casaco tem alguma coisa dentro que uma criança não possa ver”? Duas perguntas que eu, ou a mãe dela, jamais faríamos nos nossos tempos de infância.
A Feira Nacional de Gastronomia de Santarém é uma iniciativa que valoriza a cidade. Eu não frequento por achar que é uma feira de vaidades, mas também porque já não tenho idade para me meter nos copos nem para comidas pesadas e picantes. No entanto, não perco as imagens dos dias de inauguração em que os políticos e alguns figurões da terra se passeiam de copo de cerveja na mão e cigarro ao canto da boca. Este ano a inauguração coincidiu (quase) com o dia a seguir às eleições. Que lindos estavam os caciques do costume, que, embora politicamente tenham perdido tudo o que havia para perder nas eleições autárquicas no concelho de Santarém, passearam-se
sem um pingo de vergonha pelo mau exemplo que são, e acima de tudo pela responsabilidade que deviam assumir por serem os coveiros de sempre desta cidade monumental. Não falo de nomes. Não é por ter medo ou cobardia. É para não lhes dar publicidade de borla. Alguns deles ainda gozam com quem trabalha. JAE.