Opinião | 29-10-2025 21:00

As santas alegrias das sextas-feiras sindicais e as picantes patranhas que tanto nos excitam

Emails do outro mundo

Álacre Serafim das Neves

Álacre Serafim das Neves
Não me canso de tropeçar na felicidade de sindicalistas da área da saúde, quando proclamam, nas televisões, o sucesso das suas greves, e o facto de, com elas, conseguirem impedir centenas e centenas de tratamentos, cirurgias e consultas. Num país que alguns insistem em dizer que anda deprimido, sabe-me bem constatar que ainda há quem tenha alegrias tamanhas.
Desta vez, a 17 de Outubro, o feliz contemplado foi o dirigente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses. Que contente que ele estava por ver tantos doentes por atender. E por isso resultar de mais uma das famosas greves das sextas-feiras, que aumentam um dia aos fins-de-semana de quem faz greve. Um dois em um de contentamento. Uma verdadeira festa.
E é uma alegria também para quem faz os serviços mínimos obrigatórios. Não perde dinheiro; não faz tudo o que teria que fazer num dia normal (é mesmo só os mínimos) e, com um pouco de sorte, apenas tem que estar no serviço metade do tempo.
E isto porque, num dia de greve, os serviços que trabalham habitualmente com metade do pessoal, informam através do sindicato, que estiveram a “fazer os mínimos”, com o pessoal todo que lá deveria estar habitualmente, mas que nunca está. São dias felizes os dias de greve e não percebo as lamúrias de muitos doentes e familiares. Uns desmancha-prazeres, é o que é!!
Li uma notícia fenomenal de um profissional de saúde do Hospital de Leiria, que tendo ficado em estado grave após ter sido atacado a tiro, se curou em três tempos após ser observado na urgência, tendo ido para casa pelo seu pé. Pensei num milagre de Fátima. No poder curativo de um olhar clínico…enfim, o que se pensa em casos de curas milagrosas como aquela. E percebi porque o pessoal de Ourém prefere ir ao Hospital de Leiria em vez de ia Abrantes. Basta ver o que aconteceu uns dias antes.
Dezenas de crentes ali da zona de Abrantes, pegaram na vítima mortal de um acidente de viação e, não esperando pela ambulância, levaram-na ao hospital, exigindo, em altos e exaltados gritos, que a fizessem voltar à vida. Cristo houve só um e mesmo esse demorou três dias até ser ressuscitado. Não houve milagre, nem o resto que foi emocionantemente ‘relateirado’ nas redes sociais.
Os crentes não eram cento e cinquenta, nem partiram tudo. E nem sequer bateram em médicos, enfermeiros, seguranças, senhoras da limpeza, cozinheiras, técnicos de radiologia, técnicos de laboratório, contabilistas, recepcionistas e auxiliares. Mas a história dava um bom argumento para um vídeo ‘virulental’ (hoje está-me a puxar para o neologismo).
Muitos presidentes de câmara passaram à história após as eleições autárquicas de 12 de Outubro. Nada que atrapalhe as partes mais divertidas das nossas trocas de E-mails do Outro Mundo. Alguns dos que agora entram irão, certamente, estar à altura de figurar na nossa vasta galeria de artistas. Tanto em termos de opiniões anedóticas, como de decisões alegremente néscias. É tudo uma questão de tempo…e de persistência.
Saudações esperançosas
Manuel Serra d’Aire

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