Opinião | 04-11-2025 14:03

Burca vs Capacete: conheça as diferenças

Burca vs Capacete: conheça as diferenças
Susana Esteves. Jornalista e motociclista

Este texto não é sobre a polémica da proibição das burcas. É sobre a estupidez de comparar o que não tem comparação.

Este texto não é sobre a polémica da proibição das burcas. É sobre a estupidez de comparar o que não tem comparação.

Nas últimas semanas, alguém resolveu dizer que é incoerente proibir “caras tapadas” e permitir capacetes em espaços fechados. Pois bem, vamos lá pôr isto em pratos limpos, ou fazer um desenho a quem necessitar.

Comecemos pelo óbvio: o capacete é um equipamento de segurança, obrigatório quando circulamos numa moto.

A burca é uma peça de vestuário com significado religioso e cultural.

Logo, comparar um e outro é o mesmo que equiparar um extintor a uma mala de viagem, ambos são objetos, mas servem propósitos diferentes.

E já agora: não, não é verdade que se possa andar por aí de capacete dentro de cafés, bombas ou centros comerciais. Enfim, dentro de espaços fechados. É verdade que não há uma lei nacional que o proíba expressamente, mas quase todos os espaços têm regras próprias que pedem, e com razão, para tirar o capacete à entrada. É uma questão de segurança, identificação e respeito.

Não é perseguição ao motociclista, é bom senso. E nós tiramos!

Há exceções? Há, são os chamados “mete nojo”, mas esses existem em todo o lado. A questão é: se nos disserem que não podemos entrar sem tirar o capacete, temos que o fazer.

E tirar e pôr o capacete constantemente é um horror, especialmente se o encaixe é justo (como mandam as regras), e se temos toda a logística do cabelo e dos brincos e dos piercings e da maquilhagem. Acreditem em mim. Mas faz parte da logística e, acima de tudo, do civismo.

Vamos a outro exemplo. No inverno é normal muitos motociclistas usarem balaclavas. Se eu entrar numa bomba de gasolina, sem capacete, mas apenas com os olhinhos de fora, se calhar ninguém tem medo de mim, sou só estranha, mas se for um tipo com 1,90 m, com um físico simpático, se calhar a perceção de risco muda. Daí a regra para os motociclistas.

Comparar isto à proibição de burcas é só parvo. Nos outros países é igual: em França, Espanha, Reino Unido, todos exigem o uso de capacete na estrada, mas todos pedem que se retire ao entrar em espaços fechados. Ninguém vê nisso um ataque à liberdade.

Chama-se segurança. Chama-se viver em sociedade.

E reparem, nada disto é sobre a legislação, é apenas sobre uma comparação feita por alguém que não conhece a realidade.

Portanto, sim, tirar o capacete dá trabalho. Mas não tanto como tentar defender comparações idiotas.

Texto publicado originalmente na revista Andar de Moto de Outubro de 2025

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