Opinião | 20-11-2025 07:00

O MIRANTE: 38 anos e muito caminho andado

O MIRANTE: 38 anos e muito caminho andado

A imprensa local e regional em Portugal vai seguir o exemplo de O MIRANTE quando os poderes de Lisboa forem descentralizados. Nessa altura os grandes patrões da comunicação social vão ter que comprar carros e alugar casas para os jornalistas viajarem por aí abaixo, ou por aí acima, para fazerem o seu trabalho.

Num mundo perfeito o jornalismo perdia importância. No mundo em que vivemos o jornalismo tem cada vez mais o estatuto de quarto poder, porque a sociedade precisa de vigilância, de escrutínio acima de tudo, inclusive sobre os que exercem a profissão de jornalista, de tal modo o jornalismo ganhou poder na forma como escrutina e, muitas vezes, acusa.
A frase parece um exercício de hermenêutica, mas não é; é a realidade que não é só dos tempos de hoje e vem ganhando forma a cada dia que passa. A imprensa em Portugal não tem comparação com a da vizinha Espanha, França ou Reino Unido, só para citar três bons exemplos. Lá o jornalismo tem mais força, é mais democrático, os grandes grupos de comunicação social não ficam a trabalhar paredes meias com os governantes. Espanha e França são, talvez, o melhor exemplo: os jornais regionais têm tiragens superiores aos títulos nacionais. Em Portugal só nos últimos anos é que começámos a mudar de paradigma. E não foi por acaso, foi depois do “assalto” à comunicação social, protagonizado por governos dirigidos por António Guterres e depois por José Sócrates, que redundou naquilo que sabemos; um dos grandes patrões chegou a comprar um grupo de comunicação social por 300 milhões de euros com dinheiro emprestado pela banca, e quando recebeu a empresa já valia menos de metade. Mas Joaquim Oliveira comprou na mesma, sabendo que nunca ia pagar o que contratou. Ficou célebre a sua frase sobre o negócio: “comprei um porco e agora dão-me um bacorinho”. Mas, como diz o povo, a cavalo dado não se olha o dente. Era assim no tempo de José Sócrates, que teve o sonho de pegar um boi pelos cornos, e ficar lá na cabeça, sozinho, a desembolar o touro para o mandar de volta para os curros, anulando com a pega a bravura do animal.
O MIRANTE é certamente o primeiro jornal regional em Portugal a fazer frente aos jornais ditos nacionais, que, em muitos casos, têm tiragens inferiores. Não só tiragens como leitores. Os estudos da Marketest já comprovam isso há muitos anos. A verdade é que somos o exemplo, mas ainda não temos seguidores à altura, não esquecendo, nem querendo roubar o mérito a jornais que já fazem e faziam bem o seu trabalho em muitos concelhos do interior. A única diferença é que nós agarramos uma região, e fazemos um jornalismo com meios próprios, não desistimos de manter uma redacção numerosa, o suficiente para manter o escrutínio, e, acima de tudo, a independência, mesmo afrontando o poder e alguns interesses instalados.
Quem nos lê há muitos anos conhece algumas “guerras” que já travámos que vêm de muito longe, que mobilizaram muitos dirigentes políticos, e não só, e os seus apaniguados para cortarem a publicidade ao jornal. Um advogado chamado Oliveira Domingos, que era rei e senhor na Câmara Municipal de Santarém, no tempo do político e empresário Rui Barreiro, conseguiu fazer-nos uma perseguição que deu um livro, só porque noticiámos que ele pedia uma indemnização de meio milhão de euros à Câmara de Santarém quando dispensaram os seus serviços. Uma simples notícia, retirada de uma reunião de câmara, manobrada por um advogado manhoso, com o apoio de um político não menos espertalhão, só não acabou com O MIRANTE porque já estávamos com as raízes muito fundas e tínhamos caminho andado. A verdade é que Oliveira Domingos desapareceu do mapa depois de sete anos de guerra judicial que chegou ao Supremo Tribunal de Justiça com uma indemnização a pagar na ordem dos 23 milhões de euros caso perdêssemos a contenda, e Rui Barreiro anda por aí como uma sombra, embora acreditemos que mais rico, porque continua a trabalhar para o Estado e, segundo sabemos, não deixou de continuar a exercer as suas influências usando o emblema do partido (PS) que ainda recentemente o tentou reabilitar nas eleições autárquicas, onde o PS voltou a perder as eleições.
A imprensa local e regional em Portugal vai seguir o exemplo de O MIRANTE quando os poderes de Lisboa forem descentralizados. Nessa altura os grandes patrões da comunicação social vão ter que comprar carros e alugar casas para os jornalistas viajarem por aí abaixo, ou por aí acima, para fazerem o seu trabalho. O MIRANTE é a agência oficial de notícias dos jornais e televisões de Lisboa, porque o país ainda é uma herdade mal dividida e mal explorada. Perto do “mar da palha” é o reino, e o resto é território de eucaliptos, estufas e ainda alguns sobreiros, para não falar do país pedrícola a norte, que esse um dia vai desaparecer, quem sabe formando uma região mais alargada da Galiza. A ideia não é ironizar, é deixar aqui uma nota importante: os nossos políticos, os que fizeram Abril e os que o continuam, não têm mãos para um país tão belo e ainda tão diferenciado, com as suas florestas, os seus rios admiráveis, o seu povo humilde e sereno. JAE

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