Opinião | 24-11-2025 20:50

Entre os verdes dos vales de Rio Maior e o seu património histórico cultural

Entre os verdes dos vales de Rio Maior e o seu património histórico cultural
Miguel Montez Leal

Nos contrafortes da Serra de Aire e Candeeiros encontramos diversas aldeias, cada uma delas com o seu património humano, paisagístico e cultural: as igrejas, capelas e ermidas, adegas e casas agrícolas, excelentes vinhos, casas de turismo rural e as famosas salinas de Rio Maior, donde se extrai sal muito antes do tempo dos cavaleiros templários.

Na cidade de Rio Maior, cujo centro histórico está muito pouco aproveitado, dinamizado e restaurado, permanecem as marcas e memórias da casa e aquartelamento de D. Miguel, dos tempos da guerra civil entre absolutistas e liberais pela disputa do trono de Portugal. A facção vencedora, com muito menor número de tropas, saiu vencedora e D. Miguel, após a Convenção de Évora-Monte, exilou-se em Viena, dando origem a um dos muitos ramos Bragança que chegou aos nossos dias.

É interessante ficar a conhecer A Casa Senhorial d’El Rei D. Miguel/Casa da Cultura João Ferreira Maia, na Rua Serpa Pinto, e podermos observar a musealização de alguns dos principais episódios desta guerra fracticida, pois nada há de pior do que uma guerra civil.

No vasto concelho de Rio Maior destacam-se a sua paisagem, de verdes cambiantes, de um clima húmido que denuncia, apesar da sua interioridade, os frios gélidos que nos chegam do Atlântico. Nos contrafortes da Serra de Aire e Candeeiros encontramos diversas aldeias, cada uma delas com o seu património humano, paisagístico e cultural: as igrejas, capelas e ermidas, adegas e casas agrícolas, excelentes vinhos, casas de turismo rural e as famosas salinas de Rio Maior, donde se extrai sal muito antes do tempo dos cavaleiros templários.

Também nesta região se destacam os vestígios da presença romana, a casa do poeta Ruy Belo (1933-1978), nascido em S. João da Ribeira; a Fundação António Quadros (no Edifício da Biblioteca Municipal) e que reúne o espólio de António Quadros, Fernanda de Castro e António Ferro; o Núcleo Histórico da Família Montez, em Alcanede. António Montez (1885-1968), tendo ido para a capital, em 1921 ficou com o trespasse da conhecida loja lisboeta, Espingardaria Central e tomou nas suas mãos, no Rossio, esta histórica e mais do que centenária espingardaria que chegou aos nossos dias.

A presença romana na região começou a ser, de facto, revelada em 1983, com as primeiras pesquisas e escavações arqueológicas, dando origem ao actual Museu da Villa Romana e é conhecida a Ninfa Fontenária de Rio Maior.

São muitos os atractivos desta região, tão próxima de Santarém e tão desconhecida. A produção do sal, as boas carnes, os vinhedos e as tradições rurais estão ainda bem presentes em festejos rurais, feriados municipais e no folclore, influenciado, também, pela presença das tropas do General Massena, aquando das Invasões Francesas.

Pelas estradas sinuosas que ligam todas as aldeias, deste vasto concelho em dimensão geográfica, podemos contemplar vales verdejantes, encontrar tranquilidade, respirar ares puros e sonhar com os tempos de antanho e com todos os projectos que podemos vislumbrar para o futuro.

Muitas vezes, por tudo nos ser tão próximo, vizinho e natural, não o valorizamos, e são os turistas e viandantes, que reparam no brilhante que está ainda por lapidar e ser divulgado. Na região existem trilhos que nos levam a caminhar e passear. Podem fazer-se novas amizades, rirmos, sorrirmos, algo que é tão essencial às nossas vidas e aos tempos duros e de transformação acelerada em que todos vivemos, esta voragem de velocidade e produção. Às vezes é necessário pararmos, desfrutarmos e reflectir.

O ócio não deveria ser apenas um privilégio de alguns, pois sem descanso e viagem, não vivemos a nossa vida na sua completude.

Convido-vos, assim, a saírem de casa, a deixarem para trás o portátil, silenciarem os telemóveis, e a darem a si próprios um fim-de-semana passado num dos moinhos que pontuam a paisagem ou numa das casas de turismo de habitação da região, com família ou amigos. Em torno de um passeio e de uma boa mesa, o tempo e o momento, adquirem um valor sem preço. Regressemos depois às nossas casas e trabalhos, retemperados e rejuvenescidos. Para quem é da região, o concelho de Rio Maior é tão próximo e ainda tão desconhecido.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias