Opinião | 04-12-2025 16:16

As motos vão entrar na maior revolução tecnológica desde o ABS – e quase ninguém está a falar disso

As motos vão entrar na maior revolução tecnológica desde o ABS – e quase ninguém está a falar disso
Susana Esteves. Jornalista e motociclista

Ao contrário dos carros, ninguém quer motos autónomas, nem faz sentido, mas coisas como detecção inteligente de riscos (trajetória de veículos, comportamento errático, obstáculos pequenos impossíveis de ver a alta velocidade), manutenção preditiva real ou aprendizagem do estilo do condutor fazem todo o sentido.

Sou, assumidamente, uma geek. Tecnologia é algo que faz parte da minha vida profissional e do meu gosto pessoal desde sempre. Apesar de inovação ser algo totalmente incompatível com a minha conta bancária, tenho seguido e lido muitas das coisas que as marcas andam a fazer, e é incrível a revolução tecnológica que está a caminho do universo motociclístico.

Alguns exemplos: até agora, os sistemas de radar eram mais uma moda premium dos afortunados, mas começam a tornar-se a nova base de segurança ativa.

As primeiras implementações (Ducati Multistrada V4, KTM 1290 Super Adventure, BMW R 1250 RT, entre outras) provaram que o radar dianteiro e traseiro funciona de forma fiável em contexto real: ACC, Blind Spot Detection, Rear Collision Alert… E o que vem aí traz maior resolução, fusão com câmaras e detecção lateral baseada em visão.

Toda a eletrónica está a deixar de ter um papel reativo para assumir um papel preditivo. O que hoje chamamos de “assistência” (TC, anti-wheelie, cornering ABS, slide control) baseia-se numa lógica simples: algo acontece – a eletrónica corrige (ou não).

Mas marcas como a Bosch e a Continental estão a desenvolver novos produtos preditivos, que vão por assim dizer “estar à espera” do nosso (mau) agir, se desafinarem as estradas portuguesas), telemetria de longo alcance e dados partilhados. Isto significa que a moto passa a “saber” que o condutor está prestes a entrar demasiado rápido numa curva ou que há baixa aderência mais à frente, e reage antes do erro acontecer.

Depois temos a conectividade V2X e a inteligência artificial. Ao contrário dos carros, ninguém quer motos autónomas, nem faz sentido, mas coisas como detecção inteligente de riscos (trajetória de veículos, comportamento errático, obstáculos pequenos impossíveis de ver a alta velocidade), manutenção preditiva real ou aprendizagem do estilo do condutor fazem todo o sentido.

A KTM, BMW e Yamaha participam em projetos europeus de Vehicle-to-Everything (V2X) específicos para motos. O objetivo é alertar o condutor de um carro que uma moto vem no ângulo morto, comunicar travagens de emergência em tempo real, avisar de perigos frontais e laterais, etc. – tudo isto para travar o crescimento do tipo de acidente mais mortal para motociclistas. É o tal “erro humano” mitigado por sistemas inteligentes.

Estamos “psicologicamente” preparados para isto?
Muitos motociclistas continuam a ver eletrónica como “ruído” que tira pureza à condução. Mas a nova geração já cresceu em cima de motos com modos de condução, quickshifters e IMUs. Para eles, isto vai ser apenas mais uma camada de segurança inteligente.

A eletrónica não tira a essência da moto; o que tira é a ignorância e a negligência em andar sem formação. A tecnologia está a chegar, mas com exigência. É bom estarmos à altura dela.
O que acham disto? //

Texto publicado originalmente na revista Andar de Moto de Novembro de 2025

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