Os ratos de tribunal, os suspiros dos camelos e a experiência do juiz Carlos Alexandre, com amnésias e alzheimers, ao serviço do SNS
Parcimonioso Serafim das Neves
Parcimonioso Serafim das Neves
A primeira correspondência que recebi este Natal, em papel e através dos CTT, foi da minha Unidade Local de Saúde. Referia um acontecimento longínquo, embora com menos de dois mil anos e, apesar de não ser sobre o nascimento de Jesus, aludia indirectamente ao mesmo, convidando-me a juntar-me aos Reis Magos, numa oferta, não de ouro, incenso ou mirra, mas de oito euros e trinta cêntimos.
Na mesma carta que, por descuido, imagino eu, não incluía a sagrada frase “Boas Festas”, nem outra do género, eram indicados os dados essenciais para a oferenda, ser feita por multibanco, nomeadamente: Entidade, Referência, Montante… e ainda a data limite.
Presumi que a Estrela-Guia - GPS da antiguidade que orientou Belchior, Gaspar e Baltazar até Belém - se apagaria, no meu caso, na data indicada no aviso, que era 29 de Dezembro (muito anterior ao dia de Reis), deixando-me descalço, digamos assim e por isso me apressei a entrar na aplicação do banco e a entregar o meu óbolo.
Tratava-se de uma Taxa Moderadora, de há sete anos, que eu desconhecia e que nem sequer imagino a que se refere. Foi-me enviada agora, presumo eu, para me recordar que a tradição dos atrasos existe e que não são apenas os atrasos na marcação de consultas ou cirurgias.
E também para lembrar que, noutros tempos, o Serviço Nacional de Saúde também cobrava uma taxa a quem ia a uma consulta ou urgência, como ainda fazem os privados a quem a eles recorre utilizando seguros de saúde. Belos tempos.
É nestas alturas que percebo porque há tanta gente a suspirar pelo passado. E os Reis Magos, se por cá andassem, acrescentariam: “E como suspiram alto, os camelos!!”, referindo-se aos dóceis animais, claro!!
O antigo presidente da Junta de Freguesia de Arranhó, Nuno Rodrigues, foi condenado ao pagamento de uma coima de 15 mil euros, por ter colocado, antes das eleições autárquicas de 2021 - às quais não concorria - duas informações sobre obras concluídas, no facebook da autarquia. O Tribunal de Vila Franca de Xira considerou que foi propaganda eleitoral, numa altura em que a mesma não era permitida.
O caso não está encerrado, porque o Supremo Tribunal mandou o processo de volta à origem, mas suscita-me uma dúvida sobre a dieta alimentar dos ratos e ratazanas que, segundo li, andam livremente pelo Tribunal de Vila Franca de Xira. Porque é que eles não atacaram logo, aquele belo naco de Justiça??!! E já agora, falo nos pombos que também andam por lá a cagar tudo. Não acertaram no processo por falta de pontaria, ou por concordarem com a sentença?
O juiz desembargador Carlos Alexandre, ali de Mação, que esteve ligado a casos como Operação Marquês, BES, Monte Branco ou Operação Furacão, vai liderar a nova Comissão de Combate à Fraude no Serviço Nacional de Saúde. Trata-se de uma escolha mais que acertada. Colocar a sua experiência de lidar com arguidos com amnésia aguda, mitomania, alzheimer e outras maleitas, ao serviço do SNS, só pode dar bom resultado.
Saudações revigorantes
Manuel Serra d’Aire


