Um passeio até Minde para vermos o Museu de Aguarela Roque Gameiro
Na vila de Minde nasceu Alfredo Roque Gameiro (1864-1935), um dos principais aguarelistas do século XX em Portugal. Filho de mindericos, com uma forte ligação à sua terra natal, utilizou, como ninguém, a difícil técnica da aguarela nas suas obras. Uma obra que merece ser vista e revista.
Muito perto de Alcanena encontra-se a Vila de Minde que possui actualmente cerca de três milhabitantes. Minde é conhecida pelo seu dialecto próprio de antigos feirantes, o minderico, que o utilizavam entre si para que os de fora não os entendessem. Vila remota e actualmente pouco visível no panorama nacional, é uma terra muito peculiar e interessante. Os mindericos, chamaram-na, no seu linguajar, Ninhou. É gratificante constatar que num país europeu de média dimensão, coexistem tantas especificidades, tantas culturas, tantos sotaques e pronúncias, o que faz do nosso território um tema de estudo bem interessante.
Nesta Vila, que poucos visitam, nasceu Alfredo Roque Gameiro (1864-1935) um dos principais aguarelistas do século XX em Portugal. Filho de mindericos e com uma forte ligação à sua terra natal, utilizou, como ninguém, a difícil técnica da aguarela nas suas obras.
Durante grande parte do século XX e nos inícios do Estado Novo e mesmo, talvez, até aos anos 70, o seu nome era uma referência nacional. As suas aguarelas estavam presentes nos manuais escolares, nos livros de História, em museus, bibliotecas, exposições e colecções individuais. A pouco e pouco o seu nome foi caindo no esquecimento. O meio da historiografia da arte parece não perdoar e não valorizar muito os artistas que professam um estilo de pintura realista, etnográfico e considerado “patrioteiro”. Felizmente que nem todos os historiadores de arte assim pensam, mas de preconceito em preconceito e, às vezes seguindo temas mais actuais e populares de investigação, acabam por acentuar e sublinhar a sua miopia crítica.
No seio desta Via encontra-se uma casa, conhecida como Casa dos Açores, o Museu de Aguarela Roque Gameiro, casa do risco do arquitecto Raul Lino (1879-1974). Este edifício alberga grande parte da colecção da família do artista e de obras que pertencem ao CAM (Fundação Calouste Gulbenkian). São organizadas, com frequência, exposições temporárias e os serviços educativos recebem muito público escolar.
A casa de Roque Gameiro marca esta localidade: a sua arquitectura, a colecção que ali se encontra custodiada, a homenagem se faz ao seu principal artista e a visão para o futuro, que é a de educar e cultivar as populações locais e tentar fazer que estas deixem de encarar os museus como depósitos de peças, cristalizados no tempo e maçadores.
Professores, educadores, animadores culturais, especialistas em conservação e restauro, historiadores e historiadores de arte são aqui chamados à liça para que não se perca a memória de Roque Gameiro e da sua família de artistas. Através da cultura, lançamos as bases para o futuro e para a plena cidadania. Winston Churchill afirmou, no contexto da segunda mundial, “se não lutamos pela nossa cultura, lutamos para quê?”.


