Opinião | 18-12-2025 07:00

A política de cada dia nos dai hoje

A política de cada dia nos dai hoje

O presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, visitou o distrito de Santarém com uma agenda no mínimo pouco ambiciosa. Para isso também colaboraram os políticos locais que não deram conhecimento público dos problemas da região, a confiar naquilo que vimos e ouvimos ao longo da visita.

A época de Natal e Ano Novo não justifica a falta de trabalho dos políticos locais e regionais que receberam a honrosa visita de José Pedro Aguiar-Branco, o presidente da Assembleia da República que cumpre um segundo mandato depois da queda do primeiro governo de Luís Montenegro. Que saibamos os deputados não estão obrigados a amordaçarem-se em situações em que é necessário mostrarem que estão vivos, que conhecem os seus deveres. Daí que tenhamos estranhado passarem um dia em visita à região sem dizerem, ao menos por escrito para trabalho de jornalista, que conhecem os problemas da região, desde a falta de investimento público até à ignorância pura e dura dos nossos problemas mais primários, como a desertificação, falta de investimento nas comunicações por estrada e ferrovia, apoio à habitação, investimento na floresta e no desassoreamento do Rio Tejo, apoio na consolidação das suas margens, apoio no combate à poluição dos rios Almonda, Nabão e Sorraia, entre outros, apoio às Misericórdias que se substituem ao Governo para aceitarem os idosos em condições muitas vezes difíceis de suportar, enfim, quem conhece o Convento sabe o que se passa cá dentro.
Estranho estranho é ter uma comitiva tão larga a visitar a região e não se ter ouvido um ai ou um ui, no mínimo terem feito chegar à nossa mão um documento escrito a informar a comunicação social que José Pedro Aguiar-Branco não veio só cumprir calendário de presidente da Assembleia da República, veio também ouvir a voz dos ribatejanos, que não vivendo no pior dos mundos têm problemas urgentes no seu território que precisam de ser resolvidos. Temos a segunda maior figura do Estado português numa visita à região ribatejana e não tivemos um único político a pôr a boca no trombone, como se pede nestes tempos de viragem à direita, exactamente por tudo aquilo que tem sido a governação, ano após ano, dos mesmos de sempre.
É uma pena que os nossos políticos de proximidade contribuam com o seu silêncio para a situação a que chegamos, em que um tipo que tem a coragem de mandar trabalhar os ciganos consegue eleger numas eleições legislativas 50 deputados, alguns deles aparentemente sem saberem ler nem escrever, e fazer do seu partido o segundo da nossa democracia parlamentar. É mau demais viver e trabalhar a pensar que um dia destes o partido de um homem só vai vencer umas eleições legislativas e mandar para a coisa da mãe todos os políticos emancipados dos partidos fundadores da nossa democracia, conquistada com cravos nos canos das espingardas pelos militares como Salgueiro Maia e Correia Bernardo, entre muitos outros.
Este texto não é um grito de desespero ou uma tentativa de minorar a actividade de políticos no poder ou na oposição. É simplesmente a opinião de um cidadão que não se rende, não se entrega, sabe que tem que falar em nome de muitos que não têm voz, e que se tivessem uma tribuna como nós temos também não se calariam. JAE.

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