Opinião | 18-08-2022 06:59

A Lídia Jorge, os livros a mais e os juízes corruptos

JAE

A Rede Europeia de Conselhos de Justiça fez um inquérito junto de cerca de 16 mil juízes de 27 países. 26% dos 494 magistrados portugueses inquiridos disseram acreditar que durante os últimos três anos houve juízes a aceitar subornos ou a envolverem-se em outras formas de corrupção.

A cultura é tudo o que resta depois de termos esquecido tudo que aprendemos. Relembro esta frase, atribuída a vários autores, porque recentemente reli Gabriel Garcia Marques e constatei a qualidade da escrita e da pontuação do texto. Sei que lhe devo muito do gosto pela escrita e pela literatura, mas à medida que os anos vão passando vamos descobrindo melhor o segredo dessas passagens de testemunho que roubamos aos escritores graças ao trabalho dos editores, distribuidores e livreiros. A economia de palavras neste romance, que conta uma história datada, mas que não deixa de ter ainda a sua beleza, lembra que o que parece fácil demora muitos anos a aprender; e para muitos nunca chega a ser uma lição porque ficam pelo caminho. Recordo duas entrevistas de trabalho que fiz esta semana com jovens licenciados em jornalismo que confirma o que sei há muitos anos: as licenciaturas começam e acabam sem que os alunos saiam da sala de aula; uma gatunice dos gestores das universidades e um mau trabalho ao país que é um dos mais pobres da Europa em literacia. A profissão de jornalista que devia estar em crescendo, é das mais desprestigiadas da actualidade muito por culpa dos gestores das universidades que dão licenciaturas sem ensinarem a prática do jornalismo.

Aproveito o tempo de férias para falar de livros e de autores. Regozijo-me com a tradução para chinês do romance “Os Memoráveis”, de Lídia Jorge, uma escritora que conheço bem e com quem cheguei a ter relacionamento pessoal na altura em que fundei O MIRANTE. O “Dia dos Prodígios” foi um dos primeiros que comecei a ler nas viagens intercontinentais que servem para fugir ao trabalho. A notícia obriga-me a trazer aqui a memória de Maria Ondina Braga com quem também aprendi muito no tempo em que era um jovem jornalista e ela uma autora já com obra reconhecida. Maria Ondina Braga foi professora em Goa e Macau, e um dos seus livros mais conhecidos é exactamente “A China Fica ao Lado” (1968). Guardo das nossas conversas e de meia dúzia de cartas que trocámos a imagem de uma mulher que faz lembrar Lídia Jorge em muitas qualidades humanas: serena, culta, disponível para toda a gente que a procurava, reservada qb., trabalhadora incansável da palavra, incapaz do autoelogio, sempre à procura da perfeição na escrita.

A Rede Europeia de Conselhos de Justiça fez um inquérito junto de cerca de 16 mil juízes de 27 países. 26% dos 494 magistrados judiciais portugueses inquiridos disseram acreditar que durante os últimos três anos houve juízes a aceitar subornos ou a envolverem-se em outras formas de corrupção. Na classificação final, Portugal ficou apenas atrás de Itália (36%) e Croácia (30%), igualando a percentagem da Lituânia (26%). O presidente da Associação Sindical de Juízes Portugueses (ASJP) já pediu uma resposta urgente a esta situação junto do Conselho Superior da Magistratura com o argumento de que se ficarem calados, os cidadãos vão dizer que se os órgãos de gestão das magistraturas não actuam é porque o problema já não está na corrupção, mas nas pessoas que têm a obrigação de a combater e denunciar.
Sou dos que já sentiu na pele a falta de preparação dos juízes para os assuntos que estavam em tribunal; é verdade que nem todos os juízes são corruptos, felizmente. Também há outros que sabem muito de crime e não percebem nada da lei da liberdade de imprensa mas não se importam de condenar com a mesma facilidade que vão almoçar ao OH! Vargas, em Santarém ou ao Solar dos Presuntos, em Lisboa. JAE.

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