Opinião | 09-06-2022 06:59

Fruta com pesticidas perigosos não preocupam a ministra da Agricultura

JAE

Em Maio deste ano um estudo de uma organização internacional anunciou que a Europa, e Portugal em especial, continuam a aumentar a utilização de pesticidas perigosos nos pomares, nomeadamente de pêras, maçãs, cerejas e pêssegos. A ministra da Agricultura disse que era tudo uma grande surpresa e que desmontava a trama em poucos dias. Foi até hoje.

Andamos todos a comer fruta com pesticidas proibidos, ou que deviam ser proibidos, mas entretanto a Feira Nacional de Agricultura dá-nos exactamente aquilo que nos dá a Festa da Ascensão na Chamusca: música e touradas para esquecermos que vivemos à sombra de dirigentes políticos e associativos especialistas em beijinhos na boca e toma lá que já almoçaste.
Não me resigno. Apesar das associações de produtores criticarem a comunicação social por dar mais importância aos estudos internacionais que ao esforço dos agricultores que abastecem o mercado de fruta portuguesa, estou do lado da comida saudável.
Um estudo apresentado recentemente pela rede de organizações não governamentais PAN Europa, diz, claramente, que andamos a comer pêras, maçãs, pêssegos e cerejas com pesticidas que já não deviam ser usados na Europa e que em vez de o seu uso ter diminuído ainda aumentou nos últimos nove anos. Com base na análise de mais de 97 mil amostras de fruta fresca cultivada na Europa, e em dados oficiais dos 27 Estados-membros, o estudo – “Forbidden Fruit” – revela que, em 2019, cerca de um terço da fruta continuava a revelar resíduos de pelo menos um dos 32 piores químicos ainda autorizados na União Europeia, que estudos científicos apontam como sendo desreguladores endócrinos, substâncias persistentes, bioacumuláveis e tóxicas, associados a problemas de fertilidade ou cancerígenos. Entre estes constam o fungicida “Ziram” (associado a disrupções endócrinas); o insecticida “Pirimicarb” (suspeito de efeitos carcinogénicos), o fungicida “Metconazole” (potenciais efeitos no sistema reprodutor humano). A PAN Europa quer que sejam banidos do mercado rapidamente e para isso está agora a iniciar uma nova campanha contra os produtos perigosos na agricultura.
O estudo da PAN Europa está em quase toda a imprensa portuguesa. As más notícias vêm acompanhadas da recordação de um programa denominado “Do Prado ao Prato” que faz parte de um Pacto Ecológico Europeu de reduzir em 50%, até 2030, o uso de pesticidas na agricultura. Ao contrário do que era esperado várias substâncias químicas usadas em pesticidas, herbicidas, insecticidas e fungicidas, que já deveriam ter sido substituídas, continuam a ser usadas na fruta e vegetais que consumimos diariamente.
O que podemos concluir deste estudo é que o risco de comermos fruta contaminada com pesticidas aumentou dramaticamente, o que contraria tudo aquilo que esperávamos dos produtores e das autoridades que têm obrigação de vigiar a utilização de produtos perigosos na agricultura.
Uma nota final e um aviso que deixo para eu próprio também não me esquecer: não comer fruta com casca e recorrer cada vez mais à produção biológica.

PS. A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, foi confrontada pela agência Lusa a 25 de Maio, em Bruxelas, onde se encontrava numa reunião de ministros da agricultura, e a sua resposta foi peremptória; não conheço nem acredito nesse estudo. Quando chegar a Portugal vou esclarecer tudo. Foi até hoje. A imprensa nunca mais falou no assunto e a ministra Antunes finge que o estudo nunca existiu nem voltará a ser notícia até saltar para outro qualquer lugar de (i)responsabilidade governativa.
JAE.

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