Opinião | 23-01-2022 01:00

Meter baixa ecológica para salvar o planeta e invejar a adrenalina dos valentes candidatos

Meter baixa ecológica para salvar o planeta e invejar a adrenalina dos valentes candidatos

Emails do Outro Mundo

Cidadão eleitor Serafim das Neves

Fui à garagem buscar uns cavacos para acender a lareira e quando, derreado de todo, cheguei com a carga às costas ao meu quarto andar, descobri, através de uma associação ambientalista chamada “Zero”, que me esperava uma difícil opção. Ou passava a noite a tiritar de frio ou queimava a madeira e atafulhava os pulmões de partículas resultantes da queima arriscando doença pulmonar ou cardíaca.
Embrulhei-me em mantas e vim escrever-te este e-mail. Não seja por causa do meu conforto que o mundo e o ambiente vão por água abaixo. Nesse aspecto peço meças a qualquer um. Só não vou para o trabalho de bicicleta porque são mais de cinquenta quilómetros, ida e volta, e já não aguento.
Mas também não vou de carro para não poluir, nem de camioneta, porque já não há camionetas há carradas de anos e se houvesse eram poluentes. Meti uma baixa ecológica, digamos assim. Não trabalho mas é por uma boa causa. Estou a contribuir para salvar o planeta.
Nestas alturas de campanha eleitoral fico sempre maravilhado com o entusiasmo dos candidatos e com a veemência com que se engalfinham uns contra os outros, seja em debates ou em declarações às televisões, antes de almoços, jantares, visitas a fábricas ou simples caminhadas de passo estugado, pelo meio da rua, o meio de bandeirinhas agitadas por quem os acompanha.
A minha admiração justifica-se porque todos os antigos deputados dizem que se fartaram de trabalhar quando estiveram na Assembleia da Republica, independentemente de lá terem passado um mês ou um século.
Mas as eleições fazem mexer mais coisas para além das bandeirinhas partidárias. A movimentação é tanta que por vezes se confunde com certos fenómenos meteorológicos como os tsunamis ou, vá lá, com as tempestades de areia nos desertos. Promessas de obras enterradas na poeira dos tempos ressurgem milagrosamente. Processos judiciais há anos a aguardar desfecho, são resolvidos com estrondo nos períodos de pré-campanha. Enfim, tudo floresce e refloresce como se tivesse chegado a Primavera, mesmo quando e Inverno mal começou.
Há quem não perceba porque razão a Comissão Nacional de Eleições, que na altura das autárquicas se atira aos presidentes de câmara como gato a bofe, quando eles se atrevem a falar numa obra que fizeram ou a publicitar a aprovação de uma candidatura que vai permitir outra, não faz o mesmo agora, com o lançamento de obras prometidas há décadas ou com o fim de julgamentos mediáticos que ilibam ex-ministros ou ensombram figurões da oposição, mas isso é por falta de bestunto.
Basta perceber que Tribunais, Ministério Público, Infraestruturas de Portugal e outras entidades nomeadas para semear benesses para os bons e castigos para os vilões, não seguem o mesmo calendário que nós e que, por isso mesmo – e só por isso – não sabem, nem querem saber, se há eleições ou não, ou se está a decorrer uma campanha eleitoral ou não. Eles estão lá no alto, acima das nuvens. Decidem e pronto!! O povo é esclarecido e não se deixa influenciar por coincidências, como todos sabemos. E por aqui me fico para não ser acusado de influenciar o resultado das eleições.
Um abraço bem escrutinado
Manuel Serra d’Aire

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